Séries de Bicicleta: "As Leis de Lidia Pöet"
Uma das muitas ideias que tinha para me forçar a escrever mais por aqui - embora hoje em dia cerca de 80% das mesmas caiam no esquecimento ou se percam no frenesim dos dias - era uma rubrica chamada "Séries de Bicicleta". Em que é que consistia? Em comentar e avaliar as séries que vejo quando estou a fazer cycling - praticamente o único tempo que, aos dias de hoje, dedico a conteúdos televisivos e cinematográficos.
Os meses foram passando, as séries e os documentários acabando, eu nunca escrevia nada e acabei por deixar cair a ideia. Apesar de ver muita coisa - principalmente quando ando numa de documentários, que são mais curtos -, o ditado aplica-se bem neste caso: "quantidade não é qualidade". Porque a verdade é esta: quando estou em cima da bicicleta não tenho paciência para coisas muito profundas, preciso acima de tudo de algo que me distraia do esforço em que estou. A experiência (a brincar, a brincar já faço isto diariamente há ano e meio!) levou-me a impôr uma regra a mim própria: as séries que vejo enquanto faço cycling são exclusivas daquele poiso - não posso vê-las no sofá, refastelada, por exemplo. Isto porque escolho normalmente os conteúdos a dedo, sabendo aquilo que puxa por mim; já sei o que me dá vontade de subir para a bicicleta só para saber o que vai acontecer a seguir e de continuar a pedalar mais um bocadinho para poder terminar um episódio. É, no fundo, uma motivação.
Descobri nos reality shows da Netflix a receita perfeita para estes minutos de tortura (ui, perdão: exercício), principalmente no "Love is Blind". Mas vou procurando outras coisas entre temporadas e escandaleiras - e o programa que hoje trago foi um desses casos - é uma série boa, nada ao estilo habitual desta pseudo-rubrica que nunca chegou a nascer, mas que serviu para finalmente quebrar o enguiço e escrever sobre algo que ando a ver enquanto suo as estopinhas.
A série chama-se "As Leis de Lidia Pöet", passa-se entre o século XIX e XX e retrata uma jovem aspirante a advogada - mas que, por ser mulher, vê a sua ambição ser consecutivamente vedada a um mundo que, à época, era exclusiva do sexo masculino. É uma série de crime, onde em cada episódio é resolvido um homicídio graças à sua perspicácia, improviso, capacidade de luta e de dar a volta ao texto.
É uma série muito gira e dinâmica, uma espécie de crossover entre CSI da época e Castle, mas com uma componente histórica que está bem desenhada e retratada, com cenários bonitos e fatos trabalhados, que trazem muito valor acrescentado aos episódios. A parte melhor é que, de facto, Lidia Pöet existiu - e foi a primeira advogada italiana a fazer parte da Ordem dos Advogados desse país. É lógico que todos os casos retratados e até a história familiar e amorosa da personagem estão trabalhados para dar mais sumo à história, mas o facto de se trazer à baila aos canais mainstream (mais) um nome que lutou pela emancipação das mulheres é tudo de positivo.
Infelizmente a série é curtinha, tem apenas seis episódios, e por isso sabe a pouco. Aguardo para que seja renovada para dar mais umas pedaladas enquanto me encanto com os diálogos em italiano e uma boa série de investigação light.