Salvem os golfinhos das pranchas de esferovite!
Não, meus amigos: eu ainda não ultrapassei o facto de ninguém me ter dado os créditos por, o ano passado, terem surgido todo o tipo de insufláveis (eram flamingos, fatias de pizza, ananases e melancias e até uns gelados ocasionais), após eu ter escrito, no ano anterior, sobre a falta de originalidade nas boias, que andavam sempre entre o golfinho desequilibrado, a orca assassina e o crocodilo-fofo. Tudo coincidências, dizem! Mas eu cá não acredito nessas falinhas mansas. Mas enfim, a vida continua.
Hoje estava outra vez na valiosa - e subvalorizada - atividade de observação quando me apercebo de uma menina a carregar uma daquelas pranchas de esferovite, que devem custar uns 32 cêntimos na China, que têm coisas estampadas de um lado e uma espécie de saco de ráfia preto no outro. Ainda sem ver nada, apostei comigo mesma que por detrás da parte negra estaria um golfinho. E bingo, acertei!
Porque a falta de criatividade ao nível dos produtos aquáticos aqui no Algarve não abrange (ou abrangia) somente os insufláveis. As braçadeiras para criança continuam a ser cor de laranja e as pranchas têm, 90% das vezes, imagens de golfinhos assustadoro-pirósos no seu verso mais colorido. O que é de louvar, tendo em conta que é difícil tornar um animal tão querido como o golfinho em algo quase aterrador. Mas eles conseguem!
As restantes 10% das pranchas são para os pais das crianças - na sua maioria rapazes - que não deixam que os filhos andem com essas coisas “amaricadas”. Há que comprar coisas com um ar de macho. Um tubarão e os seus 357 dentes, porque não? Ou então labaredas bem laranja, que fazem o olho de qualquer pirómano brilhar de alegria. Tudo coisas bonitas, portanto. E é incrível ver como, ano após ano, esses artigos de tecnologia altamente avançada se continuam a vender quais pãezinhos quentes! São gerações e gerações de golfinhos maltratados!
Venho, por isso, pedir que libertem os bichos dessa praga que os assombra desde que eu tenho idade para me lembrar. Mas, ao contrário do que fiz com as boias, não vou deixar sugestões de novos designs que poderão potenciar a venda deste objeto tão resistente, que perante as enormíssimas ondas de 40 centímetros fazem “crack”, deixando os filhos em lágrimas e os pais a chorar os 7,5€ que deixaram na papelaria ao lado do hotel. Ainda é com alguma dor que recordo que, embora me tenham roubado o projeto golfinhos-e-orcas-nunca-mais, nunca chegaram a concretizar a minha ideia de fazer uma bóia-Andorinha, que faria certamente furor por essas praias fora. Posto isso, que pensem sozinhos em novos padrões para libertas os pobres golfinhos das pranchas de esferovite, seus empreendedores de meia tigela! Não têm de quê!