Quando vira o prego
Acho 2016 foi o melhor ano da minha curta vida. Foi porque aconteceram-me coisas boas, porque tive umas férias absolutamente espetaculares, porque saí da faculdade, concluí a licenciatura e comecei a trabalhar numa área que me apaixona. Mas, acima de tudo, porque mudei o meu chip; porque decidi que queria ser feliz. Isto pode parecer parvo, mas é a realidade: eu nasci com o chip errado, o meu estado de espírito natural era - é - estar triste. E é óbvio que isto não se faz de um dia para o outro, qual ficha que se liga e desliga quando bem se quer: funciona mais como um dual sim, em que um dos cartões nunca sai - o original. Temos é a oportunidade de acrescentar um cartão extra, quando estivermos preparados e dispostos a tal.
O nosso material de fundo permanece sempre o mesmo, podemos é acrescentar-lhes uns bónus que tornem toda a "embalagem" melhor. E eu este ano quis fazer isso: atirei-me para fora da minha zona de conforto, fiz coisas incríveis e livrei-me de outras que nunca me fizeram bem. Isto ajudou a construir o meu novo chip, que consiste num trabalho diário que, creio, vai durar para o resto da minha vida. Não há qualquer tipo de dúvidas que é algo que vale a pena mas também é óbvio que o facto das coisas me terem corrido bem também ajuda a um estado de espírito positivo. No meio destes vários meses em que andei nas nuvens, às vezes parava para pensar e perguntava-me: "e quando o prego virar, como vai ser?". Tinha medo de não conseguir enfrentar as coisas com o positivismo e esperança necessários para continuar neste caminho que tem sido tão bom para mim mas que constitui sempre uma luta.
E chegou o dia. O prego virou. Não todo, não drasticamente, não por causas fortíssimas que me atirem ao fundo do poço (como costumo dizer). Mas que o ângulo que ele tinha mudou, disso não há dúvidas. Esta semana, pela primeira vez desde que estagiei, não me apetecia ir trabalhar; não me apetece tratar das compras de Natal e nem me lembro que o ginásio existe, porque só quero aqueles minutos extra durante a manhã, enrolada no quente da minha cama, que parece ser das poucas coisas que me aquecem a alma nestes dias frios, tanto lá fora como cá dentro. A maioria das coisas desta vida não matam, mas moem.
Tenho sido a pessoa que quero ser em vários dos papéis da minha vida: como trabalhadora, como filha, como mulher. Noutros sei que sou um fracasso (como amiga, por exemplo). Mas nem sempre é fácil manter a simpatia constante, a educação exemplar, o sorriso na cara - principalmente quando vemos os nossos sofrer, quando o trabalho não corre assim tão bem ou a nossa própria alma dói.
É nestes dias que custa mais pensar que o meu sistema é dual sim. Que há um chip que nunca vou conseguir desencaixar mas que, felizmente, há um outro que eu sei criar e que torna a minha vida muito mais fácil e feliz. Há dias em que parece que o perco, outros onde sinto que nunca o cheguei a construir. E esses são os dias mais difíceis. Vale-me a memória dos dias bons, do meu ano fantástico e exemplar para me relembrar que é possível.
Vou varrer o pó debaixo da alma e encontrar o maldito chip que andará lá perdido. Já é sabido que ninguém gosta de limpezas, mas nenhum dia é bom para se desperdiçar. E eu tenho um feriado pela frente para desfrutar.