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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

01
Mai18

Quando é que devemos parar de esperar pelos outros?

Acho que nunca cheguei a publicar um texto que há tempos escrevi sobre o facto de ter medo de não estar a "viver a vida" - aquela expressão que, em jovens, todos ouvimos vezes sem conta. "Vive a vida!", dizem-nos os mais velhos enquanto olham o horizonte, claramente revivendo momentos da sua juventude... ou então pensando em tudo aquilo que não fizeram e queriam ter feito.

Isto aterroriza-me. Há um medidor de vivências? De qualidade de vida? Será que o pessoal que curte ao máximo a vida universitária - entre praxes, festas, bebedeiras e queimas - viveu mais do que eu, que não gosto de nada disso? Será que se eu me tivesse obrigado a presenciar isso tudo faria de mim uma pessoa mais feliz (que, ao fim e ao cabo, é o objetivo de estarmos vivos)?

Este conceito confunde-me muito, mas também me atemoriza. Não pelo que não vivi (porque já lá vai e tenho a certeza que aquilo que preenche o conceito de "viver a vida" da maioria, não corresponde ao meu), mas pelo medo que tenho de não viver. Porque por um lado sou nova e tenho a vida pela frente; emas também porque por outro sou nova e é aqui, nesta fase, que o melhor da vida acontece.

Isto - e o facto de estar numa fase altamente contemplativa - tem-me colocado inúmeras questões. Nem eu sei o que é "viver a vida", mas penso que para além de tudo aquilo que já tenho e que é essencial (que em linhas gerais se pode descrever como saúde, família e trabalho) acho que, para mim, tudo o que me faz sentir mais viva, feliz e inspirada é viajar e ouvir espetáculos ao vivo. E por isso comecei a fazer contas e a pensar: "se eu quero viver a vida, é isto que tenho de fazer". O próximo verão em particular pareceu-me  a altura ideal para pôr isto em prática, uma vez que, se tudo correr planeado, terei tempo e dinheiro no bolso. Mas rapidamente me apercebi que faltava só um detalhe nesta equação: as pessoas.

Este "detalhe" não é de hoje, é mesmo algo transversal na minha vida (lembro-me de ter doze anos e jogar monopólio sozinha, porque não tinha com quem jogar) e também um tanto ao quanto paradoxal: sei que não posso viver sem os outros, não quero viver sem os outros, mas também preciso de uma quantidade muito maior que o normal de tempo só para mim.

Já há muito que aceitei o facto de ser assim - o que não quer dizer que lide bem com isso todos os dias, até porque diariamente são-nos impostos novos desafios e as coisas vão modificando. Até aqui todos me diziam para esperar, que com as diferentes fases viriam novas pessoas e que tudo acabaria por surgir naturalmente. Mas acho que se enganaram, provavelmente por o defeito não estar nos outros, mas em mim. Não fiquei com muitos amigos do secundário, fiquei com ainda menos da faculdade e do trabalho também não tenho ninguém que leve de férias. 

E, se pensarmos bem, as duas coisas que destaquei como o meu sinónimo de "viver a vida" fazem-se, normalmente, com companhia. Companhia que eu, normalmente, não tenho. Por isso, olhando para o quadro geral de tudo o que quero fazer, dos "anos de ouro" que tenho pela frente e para as poucas pessoas que tenho no meu caminho, pergunto-me: vale a pena continuar a esperar? Vou continuar a não ir a concertos como o do Sam Smith porque não tenho ninguém que goste das músicas dele? Vou deixar de ir ao cinema à noite porque não tenho ninguém que queira sair do sofá? Vou esperar que o teatro do Harry Potter em Londres acabe porque os meus pais ficam com o coração nas mãos por eu viajar sozinha? Vou deixar de ir à Islândia porque ninguém tem dinheiro para lá ir? 

Sempre tentei que esta minha péssima característica (a solidão crónica) nunca me impedisse de fazer as coisas de que gosto. Da mesma forma que, em miúda, peguei no tabuleiro do Monopólio e comecei a jogar sozinha, também aprendi a relaxar, pegar no carro e ir ver um filme sem ninguém. Mas estou a chegar a uma fase em que sinto que preciso de passar uma linha que, até agora, restringia as atividades a fazer em grupo. É estranho ir a um concerto sozinha. É estranho viajar sozinha. É estranho ir experimentar um restaurante novo sozinha. É estranho para mim e é terrível para os meus pais que sofrem por tudo isto. Mas até quando é que é suposto eu esperar? Quando é que é aceitável eu atirar a toalha ao chão, aceitar que é assim, que sou assim, e que isto não deve mudar? Quando é que eu devo parar de esperar pelos outros para viver a minha própria vida?

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