Pela hora de verão, alé, alé
Eu não fui uma das pessoas que votou na sondagem da União Europeia sobre a mudança da hora. Não fui porque não o consegui fazer no telemóvel, embora tenha tentado várias vezes. E foi por isso com grande alívio que recebi as notícias dos últimos dias, que revelam que cerca de 80% das pessoas que votaram querem acabar com a mudança da hora – algo que eu também quero há muitos, muitos anos (daí ter tentado votar e ter ficado chateada por não ter conseguido).
É claro que agora, como em tudo, se insurgem mil e uma vozes contra. Que seria de uma mudança destas se não tivesse opositores? É mau porque faz mal às crianças, é mau porque as pessoas precisam de dia para acordar verdadeira, é mau por isto, é mau por aquilo. Para mim, a única coisa de mal que esta mudança pode trazer é a aniquilação de um dia muito feliz, que surge inevitavelmente uma vez por ano: o dia em que mudamos para a hora de verão. Por outro lado, também acaba com um dos dias mais infelizes, aquele em que roubamos uma hora de luz ao nosso dia. Por isso é ela por ela.
Acho que todas estas desculpas que os especialistas estão a trazer ao de cima – que, para mim, não passam mesmo de desculpas – se argumentam com casos reais, Como é que fazem as pessoas que vivem mais perto dos pólos? Como é que dormem, vivem e acordam os islandeses (e outros tantos), que têm épocas de só de dia e outras só de noite? E que diferença faz, para a maioria das pessoas, o sol nascer às sete e tal ou às oito e picos da manhã? Nesse período estamos quase todos entre o fim do sono, o acordar, a rotina diária e o sair de casa. Não é muito melhor termos mais uma hora de dia para aproveitar – essa sim, em que todas as pessoas com horários normais estão de pestana aberta e sedentas de sair do trabalho ou da escola com um bocadinho de luz natural, de forma a aproveitar um bocadinho o dia?
Lembro-me perfeitamente de, no meu 8º ano, em que tive um horário estapafúrdio em que acabava as aulas muitas vezes às 18.30h, sair da escola e ser escuro como breu. O cenário repetiu-se certamente ao longo dos anos, mas esse ano marcou-me: era escuro e frio demais, sentia-me como se tivesse a andar na rua às tantas da manhã. Com noite às cinco e tal da tarde uma pessoa tem a tendência para se aninhar e sentir menos viva, de sair menos, de se enrolar numa manta e esconder do mundo. O verão é maravilhoso não só pelo tempo e pelas férias, mas também por ter dias que se esticam e que parecem não acabar. E se podemos trazer um bocadinho disso para o Inverno sombrio, por pouco que seja, acho que chegou a hora de tentar. E não pode ser por acaso que tantas pessoas tenham a mesma vontade. Estou mesmo a fazer figas para que esta medida vá para a frente.