Para ver na Netflix: uma série viciante
O trailer do The Tiger King é execrável. Mesmo. Quando começou todo o zum-zum à volta da série e eu me rendi a ver a sua apresentação só pensei: mas está tudo doido?! Mas depois li a opinião da Inês e decidi dar uma chance à série do momento. E fiquei agarrada.
"Americana". É o melhor adjetivo para descrever esta série. Acho que não há outro sítio no planeta onde aquela realidade (que se confunde com profunda loucura) seja possível. Nos EUA há mais tigres em cativeiro do que há no planeta inteiro em meio selvagem: é este o mote da série. E isto acontece porque as pessoas os compram e criam, quase de forma recreativa e doméstica, como se de gatinhos se tratasse. Alguns para entretenimento próprio, outros para fazer negócio: como é o caso do Tiger King, o protagonista desta série, que ganhou dinheiro graças aos felinos que tinha em cativeiro (e principalmente das crias que criava e comprava, de forma a mostra-las ao público e cobrar por fotos com elas).
Mas isto é ver a série pela rama. Para além de Joe King e daqueles que o rodeiam - maridos, amigos e funcionários - entram também outras pessoas do mesmo ramo de negócio. Já para não falar de Carole Baskin, uma acérrima defensora dos animais que se torna alvo de troça (e obsessão) por parte do "Rei dos Tigres" (isto em português soa muito mais foleiro). Pelo meio há um assassinato, divórcios, negócios comprados, incêndios... E muita loucura em cada pitada de episódio, que faz com que, incrivelmente, fiquemos agarrados do princípio ao fim.
Para além disto há dois ingredientes que me parecem essenciais para o sucesso deste mini-documentário. O primeiro é o facto de nada ser reconstituído: todas as imagens são reais, envolvendo todas as pessoas em causa. O segundo é a forma como o realizador joga com estas imagens, misturando-as com os depoimentos, para tornar a série muito apelativa - e, acima de tudo, nos fazer mudar de opinião sobre as personagens a cada episódio que passa. Seria lógico detestarmos o Tiger King - um louco, provavelmente criminoso e abusador dos animais - e sermos fãs das ações de Carole, a suposta defensora dos oprimidos no meio de todo este negócio. Mas será mesmo assim?
Vale a pena ver e cada um tirar as suas próprias conclusões.
(O último e oitavo episódio, acrescentado à posteriori e já em tempos de pandemia, é altamente dispensável e não acrescenta nada à série. É um follow up com algumas das personagens e uma forma que a Netflix arranjou para atrair ainda mais pessoas para a série e fazer a mesma render mais uns trocos).