Para o ano, quando já sentir saudades
Passou mais uma semana académica - de borga para a maioria, de descanso e trabalho para mim. Mais uma vez, não fui à serenata, à queima, à bênção das pastas ou ao cortejo - fiquei a dormir, a escrever, a filmar, a cozinhar, a comprar coisas com dois meses de atraso, a apagar os fogos do costume.
Não vale a pena insistirem para que eu vá a nenhuma destas coisas - tenho razão para não pôr os pés em nenhuma delas. A maior delas chama-se falta de vontade, e já é mais do que suficiente. Não considero que, com isto, esteja a perder uma parte importante da minha vida universitária - vivo aquilo que quero viver, que acho que vai ser importante para mim, que me poderá ficar marcado.
O ano passado não faria qualquer sentido festejar a vida universitária, gritar pelo meu curso ou pela minha faculdade - não gostava de nenhuma delas. Foi um ano complicado, de indecisões tremendas, onde tudo o que queria era passar "os melhores anos da minha vida" à frente. Este segundo ano já está a ser tremendamente melhor - e, finalmente, nas últimas semanas, vejo alguma finalidade nisto tudo: sei o que quero, tenho um caminho definido e, pasme-se, até me vejo a fazer vida disto (embora continue a não ser aquilo que tenho alinhavado para mim). Mas mesmo que não faça, encontrar um objetivo, uma razão para tantos sacrifícios e dores de cabeça, é extremamente reconfortante. É saber que dois anos não foram deitados ao lixo, que aquela convicçãozinha que tinha no início e que se tinha vindo a esmorecer até se transformar em quase nada, afinal, até era verdade.
E agora olho para a frente e vejo que só me resta pouco mais de um ano disto. Vejo posts do facebook de finalistas chorosos, já com saudades e eu, pela primeira vez, tenho um vislumbre do que isso possa ser. E é tão bom e tão mau ao mesmo tempo.
Escrevo com um ano de antecedência, mas acho que já decidi. Duvido muito que vá à queima, por todas aquelas razões cheias de razão que não vão mudar; também duvido que vá à serenata. Mas, para o ano, quando olhar para trás e já sentir saudades, irei no cortejo com a cartola e a bengala, como manda a tradição. Poderá ser o único que vou percorrer, mas será certamente o único que fará sentido para mim.