Os meus hieróglifos
Eu não nasci para ser jornalista. É uma questão com que me debato todos os dias, é algo que me faz sofrer (quase) todos os dias mas que simplesmente me limito a aceitar. Não sou de desistir de desafios e, a partir do momento em que aceitei o meu atual trabalho de braços abertos (embora às cegas), é para ir para a frente. Todos os dias debatendo comigo mesma e todos os dias saltando do meu círculo da área de conforto, mas lutando - que é o que importa.
No meio disto tudo, e como as coisas não fluem naturalmente, falo abertamente com os meus colegas e chefe para tentar fazer as coisas o melhor possível, usando os seus hábitos e táticas com que já trabalham há tantos anos. E uma das coisas que me disseram foi para não gravar as conversas - não no sentido autoritário ou de obrigação, claro, mas simplesmente expuseram-me os seus pontos de vista e eu, de facto, concordei. Para além do facto de os gravadores ou telemóveis não serem 100% fiáveis (já fiquei uma vez, ainda na faculdade, sem uma entrevista enorme à conta disto), é um facto que os gravadores condicionam um pouco a conversa e as pessoas se mostram assustadas por tudo o que estão a dizer estar a ser gravado. Por outro lado também falo muito com as pessoas ao telemóvel, pelo que a questão do gravador já nem sequer se coloca. Por isso, desde cedo que deixei as gravações de parte e confio na minha rapidez na escrita.
E... bem... eu rápida sou. O pior são os hieróglifos que saem das minhas mãos e que, aquando de uma leitura posterior, me lixam totalmente a vida. Primeiro nunca se escreve tudo, como é óbvio - há coisas que não tenho tempo para escrever na íntegra e penso "só com esta palavrinha vou lá chegar": errado! Fico a olhar para aquilo como um burro olha para um palácio, fazendo exercícios mentais complexos para rever a conversa que tive e tentar chegar ao tópico em análise. Depois, mesmo aquilo que se escreve, por vezes... não é fácil de entender.
Num destes últimos dias, dado o meu desespero enquanto olhava para as minhas notas hieróglifadas, percebi que o que eu preciso mesmo... é de um curso de estenografia, daqueles que as secretárias antigamente faziam para acompanharem os ditados dos seus patrões sem perderem pitada. Tenho a certeza que se abrirem o meu caderno de notas, não perceberão se aquilo é português ou um qualquer código de encriptação altamente avançado. Por isso, mal por mal... que sejam códigos a sério.