Os dramas da balança
Mentiria se dissesse que tenho uma boa relação com o meu corpo. Há momentos melhores - que normalmente são os que gosto de assinalar - mas a maioria do tempo é passado com um desconforto total em relação ao corpinho que me calhou na rifa. Se me perguntassem, acho que conseguiria encontrar um defeito em cada pedaço de mim - e se há momentos em que isso me leva a querer contrariar essas características, há outros em que me sinto completamente derrotada por aquilo que sou (e tenho).
Não tenho por costume pesar-me e deixo avaliações para o espelho e os meus próprios olhos - e a verdade é que me assusta ver o quão impreciso este "método" é. É provável que, depois de uma refeição em que até nem comi muito mas terminei com uma sobremesa, me olhe ao espelho e ache que estou gordíssima e com as calças a arrebentar pelas costuras - assim como é provável que, depois de um dia em que comi fruta sempre que me deu a fome, pareça espetacularmente esbelta (nem tanto, mas vocês percebem o que estou a dizer). E eu sei que é tudo psicológico, que dez minutos depois de ter comido uma fatia de um bolo qualquer a gordura ainda não pode estar lá - mas há alguma coisa no meu cérebro que, através do espelho, me manda a informação contrária.
Não ajuda ser eu ser uma sedentária e uma doceira por excelência. Combato as duas coisas, mas a luta é diária - porque eu continuo a achar que as características que vêm no nosso "disco rígido" nunca se apagam, apenas se suavizam. A minha jornada em relação aos ginásio já é conhecida e penso que com a comida também - relativamente há três anos atrás, por exemplo, estou incomparavelmente melhor do que estava. Mas nunca é algo constante: a minha vontade de fazer asneiras relativamente à comida e a minha vontade de ir ao ginásio estão intimamente relacionadas com tudo o resto na minha vida, o meu estado de humor, o meu stresse. Quando estou em alta, está tudo óptimo e a tendência é para crescer; quando não estou, tudo piora e volto à casa de partida (e já acho que estou uma baleia novamente).
Infelizmente o nosso cérebro faz questão de se esquecer de algumas coisas recorrentemente ao longo da vida. No meu caso, por exemplo, esquece-se que a época de férias passada em casa é sempre do pior que pode haver; há quem diga que as mulheres também se esquecem das dores de parto, por exemplo, porque senão a raça humana extinguia-se com tanta lembrança dolorosa. E, claro, eu também me esqueço naturalmente do quão bom é ir ao ginásio e comer direito. É óptimo depois e na altura em que se faz, mas a partir do momento em que se cria uma rotura... é um filme para voltar.
Todos estes dramas relativamente à imagem corporal (de que decidi sempre não partilhar muito) fazem parte de mim durante todo o ano, mas agudizam-se na altura do verão. No inverno dá para andar tapada da cabeça aos pés - e vestida é que eu estou bem! -, mas no verão as peças reduzem drasticamente de tamanho. Aprendi a aceitar isso (e a mim mesma, na medida do possível) e uso um bocadinho de tudo: desde calções a vestidos, camisolas cai-cai a t-shirts, bikinis a fatos de banho - mas confesso que não me sinto a pessoa mais confortável do mundo.
A pouco menos de duas semanas de ir para o Algarve - onde o "dresscode" é praticamente bikini o dia todo - decidi pesar-me. Não foi boa ideia. Estando numa fase mais down, em que o ginásio tem ficado de lado (a alimentação está bem - até na minha coca-cola semanal cortei!), vieram a mim todos os sentimentos de culpa e recriminação por não ter feito mais para me sentir bem durante mais uma época de praia. O pior é o sentimento de disco riscado, por sentir que isto se repete de ano para ano. E é uma merda.