O verdadeiro dia de reflexão
Hoje é o verdadeiro dia de reflexão - este não devia ser o dia que antecede as eleições, devia ser o dia seguinte, para todos percebermos e pensarmos no estado em que está o país.
Tenho trinta anos, gosto de pensar que sou um ser político - gosto de pensar sobre o assunto, de discutir, trocar ideias -, tenho um posicionamento definido e um partido com quem simpatizo mas vou buscar ideias a todos e não considero que nenhum me sirva a 100%. Talvez por isso nunca tenha votado em ninguém ou em algum partido que alguma vez tenha ganho as eleições.
Ontem, ao só desligar a televisão depois da meia-noite, ocorreram-me muitas reflexões. Amanhã tenho um dia importante no trabalho e não tenho tempo para grandes textos e por isso, ao contrário do meu normal, deixo só aqui uns tópicos para pensar hoje, deixar eventualmente a pensar quem me lê e, acima de tudo, no futuro, eu ver o que a Carolina de 2025 achava de tudo o que está a acontecer no país.
- Todos os partidos deviam pôr a mão na consciência e perceber que um partido como o Chega se deve a eles: ao seu mau trabalho, à sua falta de clareza e transparência, à sua ganância, à sua corrupção. À sua definição de democracia.
- Gostava, na vida, de ser como a CDU na política: ganha sempre.
- Posso estar enganada, mas acho que o ódio que se destila em direção aos votantes do Chega não ajuda à causa de quem o destila. As pessoas que votam Chega precisam de compreensão, não de dedos apontados. Não acho que sejam pessoas mais burras ou menos capazes; acho, sim, que terão o copo da paciência e da esperança mais pequeno que os outros, já tendo transbordado. O voto no Chega é um voto desesperado. E, mais uma vez, a responsabilidade é de quem veio antes. Talvez aquilo que seja necessário mudar não é o Chega - é tudo o resto. Quando isso acontecer, este partido desaparecerá por si só, porque deixará de ter as bandeiras, os pregões e os chavões que chamam tanta gente.
- Adoro o crescimento e a manutenção dos partidos pequenos e sou veemente contra o voto útil. Útil é pensarmos por nós próprios, útil é a pluralidade. Neste sentido, acho ridículo que os partidos votem como um todo no parlamento: nós elegemos pessoas, que concorrem pelos círculos políticos em que estamos territorialmente inseridos, e deviamos conhecê-las, a si e às suas ideias, para nos representarem ativamente na assembleia. Detesto a forma como, em Portugal, votamos no desconhecido, numa massa que pouco tem de homogénea; não gosto da maneira como o nosso sistema está organizado.
- É necessário mudar a política de fundo. O contexto em que vivemos não é o pós 25 de Abril. A Constituição não é um documento intocável e é preciso atualizá-lo; é preciso deixar de fazer política como há 50 anos, deixar de fazer arruadas e comunicar eficazmente num sítio onde as pessoas ouvem (na internet, em podcasts, em programas de entretenimento, em locais onde estejam pessoas e não fantoches). Os jovens votam no Chega porque nenhum outro soube estar onde eles estão - e se é o único que conhecem, porque hão-de votar noutro?
Bom. Dito isto, seja o que Deus quiser.