O mundo está contra os rótulos, mas bem devíamos olhar para alguns
Se há coisa que eu gosto nesta vida é de ir ao supermercado com todo o tempo do mundo. Hoje em dia andamos sempre acelerados, não temos tempo a perder - e quando o temos, passamo-lo muitas vezes a descansar ou em tarefas que nos deem gozo. Porque se há coisa em que não perdemos tempo é nas idas aos supermercados - estamos sempre com pressa, suspiramos quando vemos o nosso número da charcutaria, vamos indo ao talho para poupar tempo e mesmo assim batemos o pé ao ver o ponteiro dos minutos passar e quando chegamos às caixas analisamos à peça o número de coisas que cada carrinho tem para escolhermos a fila mais rápida. E ainda bufamos enquanto a senhora da frente procura o cartão de crédito no porta-moedas.
Eu não estou a dizer que sou excepção: normalmente também vou ao supermercado num corridinho, não tenho tempo para prospeções, mas a verdade é que gosto quando o tenho. Adoro ver os novos produtos que existem, novas alternativas e, acima de tudo, de olhar para os rótulos. Acho que algumas pessoas me acham maluca porque sempre que pego em alguma coisa vejo logo a tabela nutricional, à procura dos açúcares, hidratos e coisa que tais. E é aqui que está o core deste post: eu acho que é essencial todos nós aprendermos a ler rótulos, porque somos todos sistematicamente enganados por paraverdades presentes nas embalagens. Da mesma forma que nas escolas se dá formação cívica, educação sexual e outras coisas que tais - algumas sem qualquer utilidade prática - acho que isto era algo interessantíssimo e útil para o futuro de cada um de nós.
Não sou de dietas malucas, mas sou um bocado obsessiva com as imperfeições do meu corpo - e como são infinitas, tenho muito com que me entreter. Principalmente ao nível da alimentação, tenho uma relação difícil: eu adoro comer, principalmente coisas que não são particularmente benéficas para a saúde, e acho-me sempre gordíssima. É uma gestão difícil, feita com muito cuidado para não descambar, sobre a qual já falei aqui; passa por fases, mas aquilo que faço é tentar controlar-me nas gordisses, nunca descorando aquilo que me sabe realmente bem. E aquilo que tento fazer é encontrar coisas de que gosto, sempre com a menor qualidade de açúcares (e químicos) possível - daí adorar pegar em todas as novidades do mercado e esmiúça-las.
E juro-vos, sinto-me enganada sempre que decido andar a investigar com mais cuidado os novos produtos. Mais: as coisas estão especialmente desenhadas para enganar pessoas mais ingénuas e desatentas. Pegando, por exemplo, naquela "área viva" do Continente, cheia de produtos aparentemente mais saudáveis - pega-se numa granola superior, rica em fibras e vitaminas de A a Z e nutrientes XPTO, e no entanto tem 30 gramas de açúcar por cada 100g de produto. Isto é mais do que os cereais normais, incluindo alguns daqueles de chocolate de que toda a gente agora foge. Ou, por exemplo, os iogurtes corpos danone, que apelam à aceitação do corpo e são supostamente super saudáveis para nós: um iogurte líquido tem, por exemplo, 8 gramas de açúcar, mais do que um pacote daqueles que pomos no café. E um iogurte grego? 14g - dois pacotes de açúcar.
Isto tudo para dizer que acho mesmo, mesmo importante olhar-se para os rótulos e percebermos que somos constantemente imbuídos em mentiras nada piedosas. Não é por dietas, é só mesmo para ter consciência daquilo que comemos. E, meus amigos, acreditem: eu adoro açúcar e tudo o que é bom. Mas tenho a consciência do que ingiro - e, pior que isso, a noção de que tudo o que comemos está cheio de adoçantes e que, de tão habituados que estamos a isto, difícil é encontrar (e gostar) de algo que não tenha a "droga do século XXI".