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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

14
Mai15

O bullying não é algo que se esqueça

Não sou uma "maria-vai-com-as-outras" e, por isso, tento evitar ao máximo comentar assuntos que explodem por aí nas redes sociais, durante um par de dias, e depois se esquecem. Mas, neste caso, e porque não quero que se esqueça - porque eu nunca esqueço - escrevo aqui.

Se me perguntarem qual o acontecimento mais negativo que mais me aconteceu na vida, na minha cabeça surge um episódio de bullying que tive há uns anos. Imediatamente. Foi um acontecimento - senão O acontecimento - muito marcante na minha vida. Lembro-me do dia, lembro-me do sítio, lembro-me do medo, lembro-me de quase tudo. E lembro-me dos meses a seguir, em que continuava a sentir tudo isso, sempre com o coração nas mãos e as lágrimas à porta dos olhos, sempre a sentir aquela pressão psicológica em cima mal ele punha os olhos em mim, como quem sabe bem o que fez (e o que destruiu). Acho que me lembro até demais - de tanto ter pensado nisso, acho que já acredito em alguns pormenores que nem existiram. 

Foi algo que me moldou como ninguém sabe. Sinto que toda a gente à minha volta desvalorizou o sucedido - e ainda o faz. Mas eu sofria. Sofria todos os dias, a partir do momento em que acordava e sabia que tinha de ir para a escola. E não era medo: era terror. Tudo aquilo me parecia de um filme de terror - daqueles que, precisamente, nunca gostei de ver -, ao ponto de me beliscar para acordar de uma realidade que não queria que fosse a minha. Tinha 13 anos - e apesar de crescida para a idade que tinha, estava longe de ter maturidade para lidar com as ameaças e pressões psicológicas de que fui alvo. Fiz sempre frente, fiz sempre queixa, mas isso não ajudou a que o medo passasse. Pelo contrário, temia a reação - e o posterior cumprimento da ameaça que tinha sido feita. 

Quando vi parte daquele vídeo, todas estas imagens, guardadas numa gaveta que fecho bem dentro de mim, refrescaram-se na minha memória. Vi-o por apenas uns segundos, para perceber do que se tratava - nem por sombras o consegui ver até ao fim. Tenho pena do rapaz - hoje completamente exposto, quando se calhar as feridas (as da alma) já começavam a sarar. Apetece-me dizer-lhe que as cicatrizes ficam, mas que tudo passa. Que vai ficar bem. Que, pelo menos, e graças a alguém parvo que filmou esta cena triste, esta realidade possa ter inundado o espaço público por uns dias - uns míseros dias, tendo em conta a atenção que deveria ser dada a este tipo de tema e que só vê a luz do dia quando coisas destas (e piores) acontecem (porque, aliás, já escrevi dois textos sobre esta temática - que podem ler aqui e aqui).

Por tudo o que passei, o bullying não me passa ao lado. Não é uma questão que digira, que perdoe ou que só me lembre quando toda a gente fala dela. Não é algo que esqueça. Nunca. Sempre que ouço histórias como a deste rapaz, a servir de saco de boxe a um bando de miúdas fracas e frustradas, o meu estômago encolhe-se, o meu coração acelera e tenho uma súbita vontade de vomitar. Quase como no dia em que ouvi as palavras "vais ser esfaqueada" atrás de mim e soube que podia ser verdade.

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