Nobody Wants This é tudo aquilo que eu precisava e não sabia
Não vale a pena escrever muito mais sobre a dureza do processo pelo qual a minha irmã passou - e nós, inerentemente, com ela. Se as coisas eram levadas com leviandade no início, no fim já eram muitas vezes penosas e pesadas e os dias não acabavam. Uma das coisas mais desestruturares para mim durante todo este processo foi a perda das minhas rotinas, que sempre prezei e que no geral me davam paz e até algum prazer. Gerir a nossa vida em prole de alguém muito doente - e, no meu caso, em estado terminal - é estar sempre alerta. Eu nunca estava verdadeiramente descansada ou relaxada; nunca tinha horários definidos e nunca me comprometia a 100% com nada, porque sabia que havia sempre alguma hipótese de não conseguir corresponder, pois a minha prioridade era ela - a qualquer hora e em qualquer lugar.
Deixei de fazer bicicleta de manhã, deixei de cozinhar ao jantar pratos que exigissem mais tempo (nunca comi tantas vezes fora nem tanto fast food como neste período), deixei de ir à fábrica durante muitos dias para poder estar com ela - e agradeço muito, internamente, esta minha escolha de vida por me ter permitido gozar da flexibilidade de estar com alguém que precisava de mim, mais do que qualquer trabalho. Nunca sabia a que horas saía de casa nem quando voltava - e por isso os dias em que chegava cedo, às horas "normais", eram alturas que já saboreava de maneira especial. Ter tempo para jantar à mesa e enroscar-me no sofá durante um bocadinho foi um luxo nestes dez meses - e talvez por isso também ter encontrado uma série boa, leve e com episódios curtos (este pormenor é importante, pois não aguento mais de meia hora no sofá sem fechar os olhos) foi um bálsamo para a minha alma.
Durante vários dias foram-me aparecendo nas redes sociais referências ao "Nobody Wants This", da Kristen Bell e, num dia mais calmo, decidimos experimentar para tentar aliviar a cabeça dos nossos problemas. E não é que foi a solução perfeita? É uma série ligeira, divertida e muito fofinha, com personagens com quem nos relacionamos e com uma história que até podia ser verdade. Se a religião une muitos... separa outros tantos. Será que é fácil uma relação sobreviver a este gap espiritual? É a resposta que fica respondida nesta série que vai ser, facilmente, a minha preferida deste ano (até porque não vi muitas mais).
É claro que fiquei com o coração despedaçado quando acabou. Aqueles dias no sofá foram a terapia perfeita para me desligar dos dias pesados e eu queria mais - queria rir-me de forma sentida, queria ligar-me a algo mais do que ao sofrimento que via diariamente à minha volta. Mas tudo o que é bom acaba depressa e "Nobody Wants This" é o exemplo perfeito disso. Vai ter uma nova temporada... o que, por um lado, é bom... mas por outro arriscam-se, como é costume, a estragar algo de muito bom. Mas mentiria se não dissesse que não estou ansiosa - até porque não é todos os dias que arranjamos boas desculpas para aprender mais sobre o judaísmo, os rabinos e... pronto, sobre o Adam Brody. Aguardemos, irmãos.