Nem os insetos se safam do preconceito
Há umas semanas fui ao Senhor de Matosinhos. Enquanto passeávamos para trás e para a frente, a minha mãe avistou uma senhora que estava a vender grilos - estavam num aquário aberto, cheio de folhagens, ramos e raminhos. Mas eles eram tantos, tantos, tantos que mesmo no meio de tanta vegetação se viam sem qualquer esforço. A minha mãe, que já estava filada num destes bicharocos há meses - a vizinha tem um que canta sem parar, por isso ela decidiu que também gostava de ter um cantor lá em casa - decidiu comprar um grilo para ter lá em casa.
E eu pus-me a pensar: "o quê que um grilo tem diferente de uma barata?". Calma, eu sei que são animais diferentes e com as suas especificidades, mas no fundo são insetos mais ao menos do mesmo tamanho, pretos, feios e inofensivos - e no entanto as baratas são odiaras por meio mundo e os grilos, coitadinhos, fofinhos, cantam e encantam outro meio. Não é estranho?
Vejam-se as joaninhas. Uma cai no nosso braço e nós chamamos todas as crianças da área para lhes mostrarmos o bichinho e começamos a cantar o "Joaninha voa, voa, que o teu pai foi pra' Lisboa"; se for uma aranha que, num movimento altamente arriscado de voo na sua teia a pairar o nosso braço... cai o carmo e a trindade. E os pirilampos, tão queridos com a sua luzinha? São feios que dói, parecem umas mini minhocas com o rabo aceso, mas nós deliramos de cada vez que vemos um. E isto, do ponto de vista racional, é estranho. No fundo, funcionamos tal e qual as crianças: só gostamos de brinquedos coloridos, barulhentos e cheios de luzinhas.