Não escrevo
Estava a pensar porque é que não tenho escrito. Disse a mim mesma que precisava de contrariar isto, tomar a iniciativa e que ia escrever naquela mesma altura. E, subitamente, veio-me ao cérebro uma vontade súbita de procurar (e instalar) um jogo no telemóvel. E eu nem sequer sou de jogos.
Nesse momento percebi que não escrevo porque não quero pensar. Escrever é uma consequência de um dos meus piores defeitos: o overthinking. Racionalizo tanto as coisas que preciso de as explicar de alguma forma; não fazem ideia da quantidade de teorias que tenho sobre tudo e todos e muito menos das ficções que crio na minha cabeça, nomeadamente sobre as relações dos outros para comigo. A minha cabeça é um poço sem fundo. E escrever é uma espécie de escadinha - nunca me traz à tona, mas obriga-me a ir subindo. Principalmente na racionalização de emoções, escrever é algo que me ajuda muito. No fundo, é um pau de dois bicos: escrevo porque me desanuvia a cabeça, mas também porque me ajuda a desembaraçar os meus próprios pensamentos (embora, como qualquer bom novelo, às vezes o resultado seja ainda pior).
Mas a vontade de instalar o jogo não veio só. Virei-me para as séries, toco piano, voltei a instalar o Sims e até vou tomar café! Tirando o piano, não me lembro de uma fase em que fizesse tanto de inútil. Não que eu não adore séries ou não tenha achado piada a reviver o Sims, mas não é algo que me preencha a não ser que seja acessório e “consumido” de forma muito regrada.
Percebo agora que estou a fugir de pensar. De racionalizar. Que estou a encher a minha vida de tralha para não pensar no que vem aí. Para não enfrentar já os desafios, os medos, as vitórias e as derrotas que vão chegar. Para não sofrer por antecipação. Para não dizer aquilo que não quero exteriorizar. Para esperar que passe.
Não escrevo porque estou a fugir de mim própria.