Miúda de 95 38#
Saltando pela calçada portuguesa
Ok, é verdade: esta não é uma coisa que se limita à época de 1995 - muito antes disto já devia existir quem o fizesse e, ainda hoje, acredito que o façam (embora a calçada portuguesa apareça cada vez menos).
Então é assim: quando era criança e andava em sítios com calçada portuguesa e todos aqueles desenhos típicos, vá-se lá saber porquê, enfiava na cabeça que só podia pôr os pés nas pedras pretas. Fazia isto enquanto passeava com os meus pais ou ia a determinado sítio, o que implicava ter de os acompanhar - o que às vezes não era fácil, tendo em conta que tinha de dar alguns saltos de canguru para não perder o jogo e não pousar nem um centímetro do pé numa pedra branca. É claro que dependia dos desenhos, mas havia alguns com bolinhas e ondinhas em que aquilo se tornava verdadeiramente difícil.
Tão difícil que eu reparava nas figuras que fazia e decidia parar. Mas depois aquilo era mais forte que eu e eu continuava - tentava andar normalmente mas se punha o pé na pedra branca, era como se tivesse perdido e o jogo e fazia logo um esforço para voltar às partes pretas. Era um drama para voltar a andar normalmente - suspeito que eram os meus pais que me ajudavam nesta parte, quando eu ficava para trás e eles me davam uma reprimenda.
Confesso que, ainda hoje, se vejo calçada portuguesa, me apetece fazer isto - mas acho que já sou demasiado grande para andar aos pulos entre as pedras e quase rasgar as calças de tanto esticar as pernas, por isso olho para a frente e tento nem reparar nas pedras que estou a calcar. É caso para dizer que, quando crescemos, somos sempre uns perdedores neste jogo da calçada - simplesmente porque já nem tentamos.