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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

04
Jun18

Mais um dia na luta

Acho que corria o mês de Janeiro quando voltei ao ginásio. No último post que escrevi sobre o assunto (algures em Outubro do ano passado), terminei com a frase "se isto sobreviver ao Natal, sou uma mulher feliz." Pois que não durou. Lá para o fim de Novembro, quando me meti no meu projeto Natalício, larguei (quase) tudo para me dedicar a isso, e o ginásio foi uma das coisas condenadas. O resultado não foi bom: nesse mês, de tanto estar sentada e parada, engordei perto de quatro quilos. Por azar, tinha uma consulta na nutricionista do ginásio poucos dias antes do Natal, onde constatei esse facto (o peso), que até aí desconhecia. A rapariga não foi branda - muito pelo contrário, achei-a rude e com muito pouco jeito para abordar uma questão que todos os nutricionistas deviam saber ser sensível - e eu fiquei em choque.

Tenho sorte em muitas coisas na vida, mas esta não é uma delas. Não tenho uma boa genética, nem um bom metabolismo; uso a comida como conforto em momentos de maior stress e gosto muito pouco de cenas verdes e hiper saudáveis; as dietas comigo só resultam se forem levadas ao extremo ou com auxílios externos; e o gosto de fazer desporto não está no meu ADN. Isto tudo é um mix perigoso, até porque basta olhar para a minha linha genealógica para ver o possível resultado (que é grande, se é que me entendem). E eu tenho pânico de ficar assim. Sofro com isso constantemente e todos os dias me olho ao espelho e penso que nunca me posso desleixar até aquele ponto. Mas, por outro lado, sei que o desleixo não tem de ser grande - basta "um bocadinho assim" para as coisas saírem dos eixos. Bastou um mês embrenhada num projeto para ganhar quatro quilos no lombo.

Então em Janeiro tentei controlar a boca e atirei-me ao ginásio. Quanto à primeira parte, é um caso difícil: o meu pecado tem um nome e chama-se "pão", que é provavelmente o alimento que eu mais gosto na vida. Para além disso, como doces esporadicamente (ainda que, dentro do conceito do esporádico, talvez mais vezes do que devia). Mas não bebo álcool, não tenho night cravings, não ponho açúcar no chá (e não bebo café, onde aí sim, preciso de açúcar) e portanto fica difícil cortar nessas coisas básicas, uma vez que não existem. Quanto ao ginásio, foi uma vitória: fiz um grupinho com alguns membros da minha família e lá íamos nós, tias e primas da vida airada, suar as estopinhas para uma aula qualquer onde tínhamos de saltar para cima de caixas (eu não salto, subo, porque tenho muito amor aos meus dentes), fazer burpees a toda a hora e coisas que tais. Comecei a fazer calo. Caraças, nunca fiquei tão orgulhosa de um calo! Achei mesmo que isto ia de vento em pôpa, já me sentia bem mais confiante.

Porque a questão aqui está no equilíbrio. Eu não sou obcecada pelo meu peso - mas tenho claramente uma panca com aquilo que vejo ao espelho e nas fotos (que nem sequer sei dizer se é, ou não, uma visão real e fidedigna daquilo que eu sou). Isto quer dizer que se eu estiver mais pesada mas visivelmente mais magra e/ou tonificada, é na boa; não é o peso que me importa. Para além disso, trata-se também de tentar fazer uma boa gestão de expectativas. Há uns anos para cá, sempre que me inscrevia no ginásio sonhava com o corpo perfeito: (acrescentar aqui tuuuudooo o que detesto no meu corpo e que gostava de mudar, mas que não vou escrever porque isso ocuparia uma folha A4 inteira). Depois, quando eventualmente desistia e me via praticamente igual, era uma desilusão. E quando comecei esta empreitada, fi-lo consciente de que não ia nunca ter o corpo que sempre quis. Só queria melhorar um bocadinho, naquilo que fosse possível - embora isto já seja admitir quase uma derrota à partida. Mas a verdade é que à medida que vamos fazendo e nos vamos entusiasmando, até pensamos "se calhar até consigo aniquilar aquele músculo do adeus". E as expectativas vão aumentando. Lembro-me bem de sentir a minha auto-motivação durante as aulas, de estar a sofrer horrores, de chegar ao ponto de querer chorar, e de pensar que ia conseguir olhar para uma foto na praia e não ter vergonha de mim mesma. E por isso continuava, até ficar mais vermelha que nem um tomate, a deitar os bofes de fora e de em alguns casos até me sentir a cair para o lado. A levantar pesos, mesmo sabendo que os meus trapézios estavam a gritar por socorro; a ter dores horríveis nos dias seguintes, a lidar com as contraturas nas costas diariamente, ao ponto ir fazer uma massagem para me aliviar a pressão (e quem me conhece sabe que, para eu ir fazer uma massagem, é preciso muito). Caraças, houve uma aula em que saí feliz, contente e satisfeita! Foram uns três meses nisto. Até ao dia.

Começou com uma amigdalite chata, meia gripe, que me deitou abaixo e me deixou sem forças. Depois meteram-se umas complicações no trabalho, que resultaram em horários mais alargados. E, nisto, foi-se o hábito, foi-se o grupo, foi-se tudo. Voltaram os medos. A vergonha. O pânico de ficar disforme, de não caber na roupa. A auto-depreciação. E, pá, eu sou muito boa nisso. Chateio a única pessoa que me ouve (a minha pobre mãe, cansadinha das minhas pancadas), choro as pedras da calçada. Não sei se somos donos do nosso próprio destino, mas sei que temos algo a dizer sobre ele - e eu estou sempre num limbo, entre aceitar que sou assim e de querer mudar a toda a força. Até porque há coisas que eu sei que não mudam (pelo menos sem bisturis pelo meio), porque fazem parte de nós: não há como deixar de ter uma anca larga, uma perna grossa. Mas ter de aceitar essas e querer mudar as outras é um meio termo difícil de alcançar. E mais difícil ainda é o caminho que é preciso percorrer para chegar a qualquer uma delas.

Na altura daquela polémica da Carolina Patrocínio, que andava a subir escadas no ginásio dois dias antes da filha nascer e que depois apareceu linda na sala de partos, eu tinha um post escrito mentalmente para aqui colocar. A primeira coisa que eu lá tinha era uma palavra de apoio à minha homónima, porque também eu gostava de me sentir bonita naquele que dizem ser um dos dias mais felizes na vida de qualquer pessoa; e a segunda é que tenho uma inveja horrível da força da vontade e motivação daquela mulher. E quem diz Carolina Patrocínio diz, por exemplo, Isabel Silva. Lá terão os seus defeitos, mas caraças, acordam com as galinhas para ir treinar, fazem instastories pelo meio e ainda saem de lá felizes. Quem me dera a mim ter metade dessa força.

Ainda assim, continuo a tentar. Um mês e meio de sedentarismo depois, hoje voltei ao ginásio. Este post era só mesmo para assinalar isso.

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