Há um ano estava nos Açores
Há uns dias perguntaram-me qual o destino do mundo, para onde tinha viajado, que mais tinha gostado. Eu respondi: "para além dos Açores?".
Acho que isso diz tudo.
Há precisamente um ano eu estava na ilha, sem saber que me esperava uma das melhores semanas da minha vida. É difícil explicar a importância que aqueles dias tiveram para mim. Foram a recolha de um conjunto de provas que eu precisava para comprovar tudo o que dizia até ali: que podia viajar sozinha, que me safava sozinha. Que podia ser feliz sozinha. E fui.
Não houve uma pinga de solidão naqueles dias. Percebi que era assim porque sabia que quando voltasse ia ter uma série de braços abertos para me receber, estrafagar e apertar com mimos. Porque sabia que estava sozinha ali, mas não estava só. E o concretizar dessa dicotomia, que me perseguiu durante tantos e tantos anos, foi o equivalente a um respirar de alívio. Pude desfrutar de mim mesma - sem o stress de querer agradar aos outros, de fazer a vontade aos outros, de ter outros na equação. Foi a sensação de liberdade mais profunda que senti até hoje - uma mistura que, hoje vejo, também tem muito de egoísta. Mas é o que é. Sou assim. Fiz as pazes comigo mesma naquela terra, aceitei-me. E acreditei em mim mesma, em tudo aquilo que dizia e que queria. Ganhei forças para este ano que passou - e que tanto exigiu de mim - e sinto que fui buscar muito àquelas paisagens e àquele silêncio. E, acima de tudo, muita vontade de voltar.
Por tudo isto, os Açores terão para sempre um significado especial para mim. Hei-de sempre falar das ilhas com um brilhozinho nos olhos, de quem se sente eternamente grata pelas coisas mais bonitas que viu na vida. Por tudo o que aprendeu. E por toda a paz que absorveu. Sou hoje uma pessoa mais feliz por ter lá ido.