Há um ano estava no Japão
Lembro-me de estar à entrada do prédio e pensar para mim: "tu estás completamente louca". Estava a subir, pela primeira vez, à casa daquele que viria a ser o meu namorado. As borboletas na barriga já existiam há muito, mas este seria apenas um jantar de amigos, com a irmã dele. Há dias fui pesquisar na memória do WhatsApp e descobri: foi dia 1 de Março.
Nesse jantar, enquanto me impediam de lavar a loiça ou ajudar a arrumar a mesa de jantar, eu decidi que ia fazer a inscrição para a minha viagem de grupo para a Islândia. Não demorou muito até perceber que estava esgotada. Fiquei triste - era "A" viagem que tinha destinada para 2019 - exteriorizei tudo aquilo, enquanto ouvia a água a correr e os pratos a tilintar. Entretanto fiz scroll nas restantes viagens disponíveis e saiu-me: "olha, acho que vou ao Japão".
Palavra que disse. Abri ali uma caixa de pandora - o que é estranho, tendo em conta que só nos conhecíamos há meio ano e, do nada, achamos perfeitamente normal ir para o outro lado do mundo juntos.
Tive medo - fazer férias com amigos (principalmente que se conhecem há tão pouco tempo) é uma jogada arriscada. Falei com os meus pais, pensei no assunto, olhei para a conta bancária. Três semanas depois, acabada de me sentar na cadeira do anfiteatro que viu nascer a maior das paixões, disse ao ouvido do Miguel: vamos ao Japão. Daí a uma semana - ainda amigos! - estávamos a marcar a viagem.
Faz hoje um ano que aterrei no Japão - nessa altura já com um namorado e uma cunhada-wannabe: duas pessoas que se reafirmaram acima de tudo grandes amigas, antes de qualquer relação "familiar". E é difícil não dizer que foi perfeito. Porque foi! Sim: estivemos no meio de um dos piores tufões dos últimos anos no Japão e passamos um dia inteiro trancados num mínimo quarto de hotel. Sim: sentimos o prédio a oscilar de um lado para o outro. Sim: todos tivemos o nosso momento mais chato, mais frágil, mais impaciente. Mas foi nesses momentos que a cumplicidade veio ao de cima; a empatia, a compreensão, a compaixão. A amizade. O amor.
Foi o cimentar dos alicerces de uma relação que queremos que seja para a vida. Foi um voto de confiança de todos para com todos, com a abertura necessária para fazer tanto cedências como exigências - e encontrar, no meio de tudo isso, um equilíbrio.
Tenho nas memórias do Japão o epíteto da felicidade. É difícil viver momentos contínuos com um sorriso no rosto - independentemente do cansaço, das saudades, do jet lag ou de algum mal estar. Mas lá tudo isso era ultrapassado - por me sentir tão grata por aquela oportunidade, tão fascinada por tudo o que me rodeava e tão contente por ter aquelas pessoas ao meu lado.
A viagem para o Japão estava destinada - tal como aquele jantar e a minha ideia estapafurdia de marcar naquele momento as minhas férias. O meu namoro estava destinado no momento em que toquei à porta. E a altura em viajamos também foi a perfeita, longe de saber que, se fosse hoje, provavelmente não a faríamos.
Tenho um feeling de que um dia voltarei ao Japão. Até lá, ficam as saudades. E as memórias de uma viagem inesquecível.