Grata
Não sei porque não gosto de fazer anos, mas é uma coisa quase visceral. É acordar de manhã e pensar "oh não..." e querer e ficar mais um bocadinho na calmia dos lençóis. Tento sempre decifrar este tipo de sentimentos, perceber porquê que ao contrário das pessoas normais eu não consigo estar feliz neste dia que me celebra. Ainda não consegui, pelo menos de forma completa - mas acho que estou a chegar lá. E é o mesmo problema de sempre: as pessoas.
Este dia é um reminder de todas as pessoas que ganhei, que conquistei, que gostam de mim e que me amam; mas também é uma lembrança de todos os que perdi. Todo ele é uma gestão de expectativas. É estúpido, até porque as coisas nem sempre são lineares e eu já me esqueci de dar os parabéns a pessoas importantes para mim - mas é o que é.
É perceber quem se limita a escrever "parabéns" no teu mural do facebook; quem, ainda que não se lembrando, vê no facebook e pega no telemóvel para te mandar uma mensagem; é ver quem te liga e ainda manda uma mensagem como bónus; é ver quem te liga do nada, de forma inesperada e sem qualquer compromisso; é ver quem te escreve coisas bonitas, quem te diz que tem saudades mesmo não falando durante os outros 364 dias do ano - e tu fingires que acreditas - e é ver quem não faz nada disso. E é perceberes que antes aquela pessoa te ligava e agora só te manda uma mensagem quase monossílabica; e é entenderes e veres na profundezas do teu ser que querias que aquela outra te dissesse mais que "parabéns".
A verdade é que as palavras valem pouco e os gestos falam por si e mais alto que qualquer outra coisa. O aniversário e só um dia - graças a deus! - mas serve de amostra daquilo que temos. Acho que mentimos quando dizemos que não nos importamos quando alguém de quem gostamos se esquece de uma data que, quer queiramos quer não, é especial; tão e simplesmente porque isso quer dizer que não pairamos na cabeça daquela pessoa, que não estamos no seu "espectro". E isso é triste, porque todas as relações - quer sejam de amizade, companheirismo ou amor - que não são correspondidas são simplesmente tristes.
Acredito muito em mim em determinadas coisas e relativamente a certas competências - mas nunca me apercebo do apreço que potencialmente os outros podem ter por mim. Acho sempre que sou o elemento descartável, o que não faz falta, o de substituição. E pode ser paranóia, e em alguns casos sei que sim, mas é algo que não consigo evitar; acho que há feridas que vão ser para sempre mal curadas, há coisas que doem demasiado, há perdas demasiado pesadas para serem esquecidas. E eu tenho, desde cedo, um saco cheio.
Por outro lado, hoje tive surpresas boas - principalmente vindas do mundo do trabalho. Sempre disse que não queria inimigos e sinto que estou a colher os frutos de uma entrada pacífica no mundo do trabalho. Recebi chamadas e mimos que nunca, nem nos meus sonhos, pensei receber. E fiquei mesmo, mesmo sensibilizada - ao ponto de me apetecer chorar um bocadinho de cada vez que clicava no "vermelho" do desligar. Os meus sobrinhos também me fizeram duas surpresas maravilhosas, com um recital de um poema e uma canção para mim, e eu não tenho como ficar derretida perante tantos gestos de carinho.
Obrigada a todos, do fundo do coração, pelos desejos de um bom aniversário. Foi mais um, já acabou e eu estou feliz por ter chegado ao fim. Agora tenho 364 dias de sossego =)