Fui traída pela minha cadela
(depois de escrever este título senti-me um daqueles youtubers parvos da moda, atrás de um clickbait – mas o pior é que ele tem um fundo de verdade)
A Molly é uma cabra. Não, isto não é um insulto para a minha cadela. Ela, embora seja um canídeo, tem de ter algures no seu ADN qualquer coisa que a faz agir tal e qual as cabras e os bodes, principalmente no seu chato hábito de trepar e saltar para cima das coisas. Desde pequena que a vi em cima de arbustos e pequenas árvores, mas no último ano a situação agravou-se, pois ela aprendeu a subir aos muros. Tem os seus sítios estratégicos, sabe onde apoiar as patinhas e anda ali qual trapezista. Demorou a aprender – vi-a muitas vezes a dar saltos astronómicos em direção à parede – mas agora faz o que quer da vida.
A minha preocupação inicial era que ela fugisse de casa, uma vez que chegou a ir para a rua. Acabei por perceber que ela só vai lá para fora quando sente que há algo de excecional a passar-se (se eu for passear outro cão, se sentir que algo não está bem em casa, se formos de férias...), pelo que relaxei nesse sentido. Sempre que a via em cima do muro fazia com que descesse e mandava-lhe um berro, com esperança de a assustar, mas tudo foi em vão.
Porque agora ela arranjou algo muito melhor do que fugir de casa (e que subir o galinheiro, saltar para o quintal e mergulhar no meio do estrume): vai para a minha vizinha. Só me apercebi deste fenómeno quando ela ficou com o cio e a vizinha nos veio dizer que o cão dela estava a modos que entusiasmado. Fiquei confusa. “Mas como é que a Molly e o cão da vizinha interagem?”. Pois. Os muros não são um problema para aquela cadela.
Os meses foram passando e agora posso dizer-vos com segurança que a Molly leva uma vida dupla e interesseira. Quando lhe interessa, fica deste lado; quando está entediada, vai para o outro (onde lhe dão mimos e biscoitos). Fina como ela é, pelos vistos, até já bate à porta do sítio onde estão as guloseimas, como que a pedir mais docinhos.
Mas eu só percebi a gravidade da questão quando comecei a ver fotos dela nas redes sociais dos membros da família do vizinho. Nada contra: eu sei que ela é a cadela mais fofa e querida, não acho que isto seja um caso estilo super nanny, em que se põe em risco a privacidade da “criança”... mas caraças! Sinto-me traída! Anda lá ela, toda feliz da vida, enquanto o outro cão lhe dá mordidelas nas orelhas ou dorme no colo da vizinha... E eu aqui... durante quase quatro anos com mimos diários, a dar-lhe sempre um beijo de boa noite, a tirar-lhe as remelas todas as manhãs, a ensinar-lhe os truques todos durante horas... e ela troca-me. Anda uma pessoa a educar uma cadela para isto!
(Vendida!)
(Sim, tenho ciúmes!)
P.S.: Se os meus vizinhos estiverem a ler isto, quero só dizer que estou a brincar e que agradeço o facto de a tratarem tão bem. Agora que penso... talvez demasiado bem. ;)