Embrulhos natalícios
Eu já me sinto confortável em vos confessar que sou uma criatura rara, porque sou (e vocês já sabem). E que coisa estranha vem por aí desta vez? Eu explico, mesmo sabendo que me vão achar uma doida varrida.
Então aqui vai disto: eu não gosto que embrulhem as prendas de Natal nas lojas. Pronto, é isso, já disse. A verdade é que sou um bocadinho masoquista e adoro embrulhar eu as coisas, a meu gosto, aqui em casa. É uma espécie de ritual anual: ir para o andar de cima, ligar o tablet e pôr o Michael Bublé como música de fundo enquanto corto os papéis, a fita cola e dou trinta voltas aos presentes para que fiquem perfeitamente lindos e embrulhados. Para além disso, os embrulhos que fazem nas lojas são sempre feios, cheios de agrafos e sacos com os nomes das loja - algo nada natalício.
O Natal, para mim, é amor. É o cuidado com que se fazem as coisas, o amor que se põe nos doces, o tempo que se gasta a escolher a prenda certa. Acho todo esta política de "despacha lá esse embrulho o mais rapidamente que conseguires, por mais feio que ele seja" contraditória em relação ao meu conceito de Natal. Mas a verdade é que mesmo que as lojas demorassem uma hora a fazer o embrulho mais perfeito de todos os tempos, nunca me encheriam as medidas: porque o que eu gosto mesmo é de ser eu a embrulhar as prendas.
Gosto de escolher o papel certo para aquela prenda e para aquela pessoa. Gosto de ver a melhor forma de embrulhar prendas complicadas. Gosto de decidir se ponho um laço, uma fita ou se deixo o embrulho falar por si. Acima de tudo, adoro sentir que o Natal está aí ao virar da esquina e que vou reunir-me com a minha família, conversar, tirar muitas fotos e passar a noite mais fria e comprida do ano com o coração quente.
Alguém me disse, um dia destes, que o melhor do Natal é o tempo em que esperamos por ele o preparamos com todo o primor - e eu acho sinceramente que é verdade. Não há outra razão possível para eu adorar passar horas a embrulhar coisas.