E se deixássemos de ser umas bestas ao volante?
Quando tirei a carta disse para mim mesma que não ia ser como o maioria das mulheres, más como as cobras ao volante (se fosse só ao volante, ah ah!). Sempre achei parva aquela ânsia de não querer deixar o outro, de não deixar um espacinho para um carro se meter quando atrás dele estão outros tantos, parados num stop, e com o destino traçado de lá ficarem se não houver uma alma bondosa que os deixe passar.
Quer dizer: não confundamos isto com esperteza alheia. A coisa que eu mais detesto na estrada são chicos-espertos: e por causa deles há troços onde, a caminho da faculdade, fico de tal forma colada ao carro da frente que quase damos um bate-chapas. E ai de quem ouse aproximar-se, que eu faço uma escandaleira tal e fico tão vermelha que as pessoas acham que me ainda me vai dar um ataque e desistem logo da ideia.
Mas fora essas situações, gosto sempre de ir deixando entrar um ou outro carro (também não é preciso ser de um altruísmo atroz e deixar entrar a fila inteira, sim?). Mantenho a esperança que, ao serem deixados entrar, façam também o mesmo aos outros, e que isto seja tudo um ciclo de contribuições e retribuições mutuas - e tão simples - que tornam a nossa vida um bocadinho mais fácil e completa. O simples gesto de pôr a mão fora do carro ou os quatro-piscas bastam para me fazer o dia mais feliz e de perceber que ainda há pessoas educadas por aí, dando-me sempre vontade de voltar fazer o mesmo. Porque, por alguma razão, transformamo-nos numas bestas enquanto conduzimos, e estava bem na altura de mudar isso.