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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

04
Dez24

E agora, o Natal?

Acho que neste momento da minha vida preencheria os critérios para ser oficialmente um grinch de Natal. Sei que o que maioritariamente desmotiva e entristece as pessoas nesta quadra é aquilo que outrora já as motivou: o ajuntamento, a celebração conjunta, a partilha com aqueles de quem mais gostamos. (Isto se tirarmos a parte das guerras familiares, gestões de famílias e, claro, sogras). A partida dos pais é, pelo que vejo, aquilo que faz a distinção dos Natais-felizes dos Natais-por-obrigação; diria que a morte dos nossos pais é a queda do conceito basilar de família, o fim do Natal como o conhecemos desde crianças, e trazemos para a época toda a nossa dor e sentido de perda.

Felizmente ainda tenho os meus pais comigo, mas este ano, como sabem, vai faltar-me uma peça essencial - uma que, tal como quem me fez nascer, faz parte do meu Natal desde que eu me lembro de existir. A perda dos progenitores é algo certamente muito marcante na vida de qualquer um... mas é expectável. A morte de um irmão não. Mesmo no meu caso, em que temos idades bastante díspares, eu sempre olhei mais para o facto de estarmos assentes na mesma linha genealógica e não propriamente para a idade; na minha cabeça, a partida de qualquer um de nós seria igualmente trágica e pesada e a ordem com que iríamos seria aleatória, pois estamos todos no mesmo ramo da vida. É claro que as coisas não funcionam assim: uma diferença de 15 ou 22 anos é demasiado grande para não ser notada a longo prazo - mas nunca a minha ideia foi perder a minha irmã com 45 anos. 

A aceitação desta realidade é como o luto: vai e vem. Nuns dias melhor, noutros pior. Mas mal a minha irmã partiu eu deixei logo assente que o Natal era para se realizar nos moldes normais - porque apesar de eu já me considerar com habilitações suficientes para ser um grinch de Natal - daqueles que rosnam de cada vez que se fala das refeições, daqueles que reviram os olhos sempre que se comenta a lista de prendas ou dos que fazem cara feia durante os dois dias de festa -, não me fazia sentido descartar (pelo menos sem luta) aquela que é a minha época favorita do ano "só" porque a minha realidade mudou e o nosso contexto familiar estará eternamente mais pobre. Não me faz sentido que, no meio de tanta tristeza, eu prescinda de algo que sempre me trouxe tanta alegria e calor. Até porque o Natal não são só dois dias - o Natal é toda uma época que, por sinal, começa cada vez mais cedo. Se passar a aliar o Natal a esta perda vou passar a viver dois meses miseráveis todos os anos - e que bem é que isso me vai fazer?

A verdade é que agora que os dias se aproximam eu percebo que a teoria é mais fácil do que a prática. A minha vontade de fazer as árvores não é igual à que tinha anteriormente, tenho ouvido poucas músicas natalícias e as prendas estão muito mais atrasadas do que o costume. Eu estou, obviamente, mais triste do que nos outros anos. Perdi a minha irmã há mês e meio e é tudo muito fresco - e no Natal terão passados apenas dois meses e vamos estar todos inevitavelmente tristes. Não há volta a dar, ainda por cima sendo o primeiro sem ela. Mas a felicidade é uma escolha. E eu escolhi - independentemente das minhas oscilações de humor diárias e desta perda que pesará sempre mais do que eu gostaria de carregar - que quero ser e estar feliz. Por mim e por ela.

Escolho fazer a árvore e decorar a casa com amor, escolho cozinhar os doces com a minha mãe no dia 24, escolho continuar a escolher criteriosamente os presentes que dou. Defini que queria fazer uma série de atividades com a minha sobrinha, quero ir ver as luzes, passear, comprar castanhas e usufruir. Quero sentir o frio nas orelhas e o quente no coração. Porque a verdade é que o Natal é demasiado longo para ser mau e demasiado bonito para ser desperdiçado. E porque nunca sabemos quando será o último. Mais vale aproveitá-lo.

 

Natal_Dez2023-60.jpg

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