Doze anos depois, uma carta
Querido blog,
Passaram-se doze anos. Quando te criei ainda andava às turras com a matemática e não sabia que curso escolher; o meu sobrinho mais novo ainda não tinha nascido e eu descobriria nesse verão um problema crónico no pé; o Falcão ainda jogava no Porto, a Kate e o William acabavam de casar e o Bin Ladden tinha sido morto há pouco tempo; a saga Twilight ainda não tinha chegado ao fim, o Salvador Sobral ainda não tinha ganho a Eurovisão e Portugal ainda não tinha vencido o Europeu. Não adivinhávamos que ia haver uma pandemia. E eu não sabia que ia encontrar o amor da minha vida ou que me ia casar; da fábrica, nessa altura, era capaz de recordar o cheiro a óleo e pouco mais, não pensando que um dia pudesse chamar de "meus" todos aqueles teares e máquinas bonitas.
Passaram-se doze anos. Ia escrever que tinham sido anos basilares da minha vida, onde tanta coisa aconteceu - mas a verdade é que são mais de quatro mil e trezendos dias e, independentemente da fase da vida em que nos encontremos, muita coisa pode acontecer nesse período de tempo.
Passaram-se doze anos. Acabei o secundário, tirei um curso, comecei a trabalhar num jornal, tirei uma pós-graduação, dei aulas de piano, fiquei com a fábrica, conheci o Miguel, comecei a namorar, fiquei noiva, casei-me, aprendi a não odiar desporto. Viajei muito. E, pelo meio, escrevi alguma coisa. Devia ter escrito mais, não devia?
Passaram-se doze anos - tempo suficiente para eu me esquecer do dia em concreto em que nasceste. Por isso, desculpa: a verdade é que, ao longo deste período, a memória não tem vindo a melhorar. Achei que o teu aniversário era dia 11 de Agosto - mas, quando fui aos registos, reparei que afinal era dia 6 e que havia deixado escapar a data especial. Já não tenho 16 anos como antigamente. Sabes que já tenho muitos cabelos brancos, querido blog?
A vida passa, mas tu ficas. Os amigos vão e vêm, mas tu ficas. A casa muda-se, as pessoas entram e saem, os empregos trocam-se, mas tu ficas. As recordações desvanecem-se, mas como tu ficas, elas vêem-se na obrigação de ficar retidas também. És o meu livro de memórias, o meu caderno de apontamentos, o meu álbum fotográfico, o meu guia de viagens. És o espelho do que fui - e do que vou sendo todos os dias. Tens o aroma do mar nos posts sobre os cruzeiros, o cheiro a livros nas minhas críticas literárias e a bafio nos dias em que escrevo chateada. Guardas em ti as lágrimas de saudade quando recordo alguém e a dor que me sai do peito quando finalmente consigo passar para palavras aquilo que me ferra a alma. És a minha vida em meia dúzia de palavras - que, parecendo muitas quando olhamos somente aos números, são poucas para tudo aquilo que penso e reflito ao longo dos dias.
Registam-se em ti 4059 entradas e quase 16 mil comentários. Este ano vai a pouco mais de meio e já escrevi mais do que em 2022 - uma promessa que fiz e que, apesar de dura, me está a dar muito gozo cumprir. Quero muito continuar. Tinha saudades tuas e do relatar da minha vida. Tenho saudades do tempo e da disponibilidade mental que antes tinha para escrever - passaram doze anos e nada é como dantes. Mas a vida continua, e tu com ela. Que seja por muitos mais anos.
Parabéns atrasados, Entre Parêntesis!
Sempre tua,
Carolina (versão 2023)