Diários de uma realizadora wannabe 2#
PORQUÊ SER REALIZADORA?
Esta coisa dos programas de televisão já tem barbas na história do meu curso. Desde o primeiro ano que ouvimos falar da confusão que é, do stress que causa, da mobilização total por parte dos alunos, do esquecimento das outras cadeiras em detrimento de todo este trabalho. Há um ano atrás eu achava, mesmo!, que isto era impossível; que levantar um programa de raiz era demasiada areia para a nossa camioneta. Mas estava enganada.
De todas as mil e uma histórias que ouvimos sobre os dramas do ano passado, lembro-me de dizerem que a definição de cargos foi sempre complicada, nunca havia pleno acordo em quem iria exercer o quê. Por isso, e apesar de ter dito desde cedo que gostava de ter um cargo na produção ou realização, decidi desde logo que não me ia chatear muito com isso e muito menos dar luta caso alguém estivesse interessado. Na minha ingenuidade (rara, por acaso) achei sinceramente que toda a gente iria querer esse tipo de cargos.
Até que, no momento da verdade, ninguém levantou a mão. "Quem quer ser da realização?". Ninguém, aparentemente. Até que uma colega levantou o braço. E depois silêncio outra vez. Perante isto, achei que oferecer-me para a equipa era uma boa ideia, por ser aquilo que queria originalmente. Daí até se definir que seria a realizadora foi um instante.
Apesar de ter ficado toda contente - não o nego - a reação à minha volta não foi assim tão unânime. Não sei porquê, mas toda a gente assumiu (e achou) que eu ia para a frente das câmaras, apresentar o programa. Quando deixei cair por terra as expectativas das pessoas e fui desfazendo a ideia de que poderia ser a próxima Judite de Sousa deste país, as pessoas não ficaram contentes. "Mas és tão gira", "falas tão bem", "tens tanto à vontade", "assim não tem piada nenhuma", "não percebo, tens uma dicção e uma aparência óptimas". Para minha surpresa, até colegas de turma punham em cima da mesa a hipótese de ser eu a apresentar - o que, por um lado, me espantou imenso e por outro me deixou feliz (por depositarem em mim tamanha confiança).
Mas enfim, na minha cabeça tal nunca esteve no horizonte. O que eu gosto realmente é de ver as coisas de cima, de ter um papel abrangente, de organizar tudo e fazer crescer as ideias tanto na minha cabeça como na realidade, com o enorme desafio de que estas duas coisas coincidam o mais possível. Acho que tenho jeito para liderar embora, quando quero, seja um osso duro de roer e perca as estribeiras quando percebo que a responsabilidade, o empenho e a dedicação não são aquelas que eu espero. Essa tem sido a gestão mais complicada - lidar com as pessoas, os diferentes feitios e características (onde se incluem, por exemplo, a irresponsabilidade e a preguiça aguda, coisas que me tiram do sério).
Tem sido um trabalho duro, mas muito gratificante. Quase como uma flor, onde plantamos a semente e depois de regar muito, matar os parasitas e tratar da terra, começamos a ver crescer, linda e vigorosa. Neste momento a estrutura do programa está pronta, assim como a maioria dos conteúdos. Finalmente, a uma semana de tudo acontecer, o programa está a ganhar forma. E é mágico percebermos que tivemos um papel preponderante para isso acontecer.
Continuo a entender todos os familiares e amigos que ficaram desiludidos por não estar à frente da câmara, mas acho mesmo que esse não seria o meu papel. Para os consolar, digo-lhes sempre para pensarem e verem para além do óbvio: no dia 21, não vejam só os apresentadores e os convidados, mas atentem também aos pormenores mais técnicos. De cada vez que uma câmara mudar, pensem: "foi a Carolina que decidiu mudar". Vão perceber que estou muito mais perto de tudo aquilo que se passa no ecrã do que antes pensavam.