Dia triste
Em dezanove anos, conto 18 São João's. Hoje seria o 19º. Claro que não me lembro das festas em bebé, mas lembro-me bem das festas aqui em casa; suponho que, desde que nos mudamos para aqui, há 16 anos, nunca deixamos passar esta data. E, por alguma razão, ao longo dos anos esta foi-se tornando a minha festa favorita. As sardinhas, a boa companhia, os foguetes, os balões, a tradição de ir para a piscina quando tocava a meia-noite sem os pais saberem.
Eram as únicas festas em que os amigos dos meus irmãos vinham em peso, traziam as guitarras, a boa disposição e bebidas alcoólicas a mais como "multa". Já lá vai o tempo em que a lista de "multas" era extensa e bem preparada, porque ter 50 pessoas em casa é algo que já exige uma boa organização. As luzes coloridas por cima das nossas cabeças, os enfeites, as grinaldas, os manjericos, a hora em que chegavam os doces e que os miúdos paravam tudo para darem de comer à gula. Enfim, o tempo passa. Agora os miúdos são os meus sobrinhos e não nós, os meus irmãos nem sempre vêem, e muito menos os amigos deles; também já não há luzes coloridas, apenas enfeites e grinaldas de papel que, por esta hora, estaria a colocar, porque é uma tarefa que sempre me compete.
Apesar de, ao longo dos anos, esta época festiva me ir entristecendo cada vez mais - pela falta gradual de pessoal, pela falta de alegria, de música, dança, bons vivãs e disposição - faz-me sempre bem celebra-la. É um dos dias mais longos do ano, é um dia alegre, o início do verão.
Mas hoje não há S. João. O S. Pedro, ao atirar-nos com previsões chuva para cima assim o ditou - e, verdade seja dita, a disposição para fazer uma festarola cá em casa também não é das melhores. Está tudo cansado, ou com dores, eu com exames, também cansada e sem tempo para grandes festas. E resultou nisto: uma casa vazia e sem movimento no que, nos anos atrás e por esta hora, já era uma confusão generalizada - as pessoas só chegam ao fim da tarde mas o começo da festa, para quem cá mora, começa sempre cedo e envolve muito trabalho braçal à mistura.
Não hoje. Não vou ao Porto, com 99% de certezas - será um dia como os outros, fechada em casa, com o barulho de fundo do meu computador e os papéis à frente, enquanto - mesmo com chuva - milhares de pessoas vão andar a martelar a cabeça de outras, beber cervejas, comer sardinhas e ver os 16 minutos de pirotecnia esperados à meia-noite na câmara municipal do Porto. Caraças, hoje é um dia triste para mim.
[23 Junho 2013]