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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

25
Out17

Dez coisas que ninguém nos conta sobre os cruzeiros

Para terminar em grande esta minha saga sobre o cruzeiro, quero deixar um post que idealizei há muito tempo mas que só fazia sentido partilhar depois de ter concluído todos os diários de bordo. E, finalmente, é o momento! Depois de no ano passado ter feito uma descrição exaustiva daquilo que é fazer um cruzeiro, com todos os detalhes que achei necessários, pensei em não vos tornar a maçar com algo tão pesado. Por isso selecionei dez factos sobre viajar em navios que nunca antes tinha encontrado - a maioria deles por serem caricatos ou simplesmente estranhos ao ponto de ninguém se lembrar de os mencionar! 

Este é o culminar das minhas duas experiências em cruzeiros, uma vez que muitos dos procedimentos são os mesmos. Não quer dizer que sejam medidas universais, mas parece-me que se sentem um pouco por todos os barcos de cruzeiro que navegam por aí. Vamos lá:

 

CruzeiroAdriatiMedit (367).jpg

 

 

1 - Os guardanapos querem-se no regaço. Quando chegam pela primeira vez ao restaurante principal - aquele onde jantam pratos mais gourmet, onde há as noites de gala e que está incluído na estadia completa -, ainda meio atarantados à procura da vossa mesa e sem perceber bem aquele sistema, mal se sentam e o vosso empregado se aproxima uma coisa é certa: ele vai tirar o vosso guardanapo da mesa, abri-lo e colocá-lo no vosso regaço. E não, não pedem licença. Isto aconteceu-me em ambos os cruzeiros e das duas vezes fui apanhada de surpresa (como quem diz "wow, mal tive tempo para respirar! Onde é que estás a pôr a mão?!"). Nos jantares seguintes já sabia: mal me sentava, mesmo que ainda meia torta, já estava com o guardanapo nas pernas. Just in case.

 

2 - Uma das coisas mais chatas nos cruzeiros é o "drill" - ou seja, um simulacro para estarmos preparados caso aconteça alguma coisa e seja preciso evacuar o navio. Acontece normalmente antes do barco zarpar e é obrigatório a todos os passageiros - e sim, eles contam-vos e chamam o vosso nome caso não estejam presentes (por isso não vale a pena fingirmo-nos de mortos). Os dois que fiz eram diferentes - num tive mesmo de ir para a beira dos barcos salva-vidas, no outro dirigimo-nos para o ponto de encontro para onde teríamos de ir em caso de emergência. Ambos foram chatos e eu adorava dizer que foram úteis, mas nem quero imaginar se algo acontecesse mesmo, porque tudo parece um pouco desorganizado. No fundo, contem estar uma hora calados, a ouvir o que diz o capitão. E não há mesmo ponto de fuga: todas as estruturas do barco param, há funcionários por todo o lado e não vos deixam ir para mais lado nenhum até aquilo acabar.

 

3 - Não querem lavar as mãos? Lavam na mesma! Este facto é até motivo de gozo internamente - um dos espetáculos que fui ver, com um humorista, gozava com o assunto. O que acontece, principalmente nas zonas de refeições, é que há sempre dispensadores com líquidos para desinfetar as mãos (como aqueles que, aqui há uns anos, estavam espalhados por todo o lado devido à gripe das aves). Mas nas horas de mais afluência há sempre empregados destacados, com um dispensador na mão, que vos intercetam e vos despejam líquido nas mãos - mesmo que não queiram! O que se passa ali é uma espécie de placagem disfarçada: sorriem muito, dizem-nos com imensa simpatia "hello, how are you today?" e depois, sem se aperceberem... squich! Agora não têm outro remédio senão esfregar.

 

4 - A água de beber é horrível, mas as outras bebidas podem levar-vos à falência. Se não querem gastar balúrdios em bebidas enquanto estão a viajar não vos restam muitas opções: na maioria dos sítios têm água, limonada e sumo de maçã (que eles dizem ser bom para desenjoar). Eu estou habituada a beber água em casa e por isso fazia sentido beber lá também - mas não consigo. Sei que sou pessoa de um paladar muito específico e extremamente apurado, mas acho que qualquer um notaria: a água é intragável, penso que devido ao sistema de recuperação e purificação da água que usam internamente. Nos restaurantes bebia sempre sumo, mas no quarto tinha sempre uma garrafa de água que trazia das cidades e que punha no frigorífico, para ter sempre sempre algo fresco para me matar a sede.

 

5 - Não são americanos? Problema o vosso! Isto pode não ser uma verdade universal, até porque viajei sempre em companhias americanas: primeiro na Royal Caribbean e depois na Celebrity Cruises. Mas tudo está desenhado e pensado para os americanos, começando pelas línguas faladas no barco. A primeira é, obviamente, o inglês e a segunda o espanhol - mas se por acaso não perceberem ou não falarem bem uma das duas, estão feitos ao bife. Primeiro porque não percebem o drill, depois porque não entendem os espetáculos, porque não podem participar em muitas das atividades que são feitas por animadores (que falam inglês) e, em último caso, terão mesmo dificuldade em comunicar com a tripulação. As bebidas são americanas, as perguntas dos quiz são feitas para americanos e para pessoas cuja primeira língua é o inglês e as comidas do buffet são feitas muito à imagem daquilo que se come na América.

 

6 - Quem faz tours tem números colados à camisola. Sempre! O ano passado perguntaram-me porquê que nas fotos eu aparecia sempre com um autocolante com um número colado à camisola: é para identificarmos qual o nosso grupo quando vamos em excursões. As tours são compradas no barco (ou pela net, antes de embarcar) e são-nos dados bilhetes com as informações úteis, como a hora de encontro e a hora de partida. Normalmente o ponto de encontro é sempre no teatro, onde se encontram todas as pessoas que vão fazer visitas guiadas. Mas dependendo das visitas que cada um escolheu, é-nos atribuído um número, que passa a ser o número do nosso grupo e do nosso autocarro. Quando é para sair chamam pelas pessoas com o autocolante número X e lá vamos nós. Como frequentamos sítios turísticos e muito movimentados, este método é bom para encontrarmos pessoas do nosso grupo e não nos perdermos. As guias normalmente também andam com placas com o nosso número para que as possamos encontrar com mais facilidade.

 

Cruzeiro_Tlm-59.jpg

 Neste caso era o número 2

 

CruzeiroBaltico (331).JPG

A guia com a placa na mão

 

7 - Os empregados tratam-se pelo nome. A simpatia do staff é uma das coisas irrepreensíveis nos cruzeiros. Senti-o mais no do ano passado do que neste - todos se esforçavam, mas os da Royal Caribbean faziam-no sem qualquer tipo de esforço, notava-se que era algo natural. Isto marcou-me de tal forma que ainda hoje sei o nome dos empregados que me atenderam o ano passado: na mesa era a Cecília, no quarto era o Nikolay. Isto porque os empregados que vos servem (nos serviços constantes, como limpeza de quarto ou no restaurante principal) são sempre os mesmos e, no início, se vêm apresentar: dizem o nome, às vezes de onde vêm, e dão os contactos caso precisemos de algo. Muitos deles também nos tratam pelo nome e o serviço é altamente personalizado, o que me leva ao próximo ponto.

 

Cruzeiro_TlmMae-146.jpg

A relação com os empregados é de tal forma cúmplice que muita gente (nós incluídos) tira foto com eles antes de terminar a viagem.

 

8 - As gorjetas são algo normal quando se faz um cruzeiro. É claro que a simpatia pode ser natural, mas a gorjeta que pode estar no horizonte também importa. Na América é regra dar-se uma agraciação num restaurante e nos cruzeiros não é excepção: na Royal Caribbean não havia cerimónias e eram até dados envelopes para se deixarem notas aos empregados, já na Celebrity as coisas eram feitas com um pouco mais de discrição (mas a sugestão era dada nos papéis que nos forneciam). É muito difícil ser empregado num barco - principalmente trabalhando em restaurantes ou na limpeza de quartos. Estamos a falar de pessoas que durante semanas não têm folgas e trabalham mesmo muitas horas por dia, num trabalho que não é descansado. Eu via o empregado que nos servia ao jantar a trabalhar às 7 da manhã no pequeno-almoço, por exemplo; e a minha room atendant a trabalhar desde as oito da manhã às oito da noite. O meu cruzeiro foi de doze dias e nenhum deles folgou enquanto eu lá estive. Para além disso, no que diz respeito aos empregados de quarto, eles estão disponíveis 24 horas por dia - basta ligar do nosso quarto para a extensão deles, e eles atendem. E, por isso, é um trabalho que (para além de ser muito bem feito e ser também bem remunerado), merece uma compensação.

 

9 - A última noite é passada sem malas, a menos que as queiram carregar no dia seguinte. Normalmente, no dia anterior ao final do cruzeiro, são-nos deixadas indicações sobre como despachar a mala. Das duas vezes que viajei tive de deixar a mala no corredor, na noite anterior à partida: elas são identificadas com etiquetas, que têm um número e a nossa identificação pessoal (caso se percam), e só depois de atracarmos e de sairmos do barco é que as vamos buscar à zona correspondente ao número que nos foi atribuído para pôr na mala. É um sistema confuso e um bocado caótico, porque normalmente têm de se deixar as malas antes do jantar, o que faz com que tenhamos de pôr na nossa mochila/carteira (ou numa mala mais pequena) todos os bens essenciais para passar a noite e para o dia seguinte, até sairmos do barco (escova e pasta dos dentes, pijama, roupa do jantar anterior, etc.). Há a opção de sermos nós próprios a levar a mala, mas nesse caso somos os primeiros a sair do barco (lá para as seis da manhã) e temos de as carregar - e malas de duas semanas não são propriamente leves. Mas é muito giro sair do corredor e ver milhares de malas lá encostadas, de todas as cores e feitios, à espera de serem recolhidas. A verdade é que durante a noite acontece magia e no dia seguinte, logo de manhã, lá estão as nossas malas, prontas para serem entregues.

 

Cruzeiro_TlmMae-157.jpg

 Uma das secções de malas, no terminal de cruzeiros.

 

 10 - "De onde vens?" é a pergunta que impera. Não esperem encontrar portugueses - durante 80% da duração do último cruzeiro, eu e os meus pais achávamos ser os únicos lusitanos no barco. Mas, afinal, havia mais quatro - com os quais acabamos por nem falar, porque a diversidade é tanta que nem vale a pena. Na viagem que fizemos no Báltico havia mais alguns, mas nada expressivo. A maioria das pessoas são americanas ou britânicas, havendo depois pequenos núcleos de todo o mundo, que é sempre bom conhecer. O ano passado conheci imensos israelitas; desta vez conheci americanos, porto-riquenhos, sul africanos, entre outros que já não me recordo. É sempre um bom tópico de conversa, principalmente se são países mais atípicos: e para além de conhecermos novas pessoas e de aprendermos algo sobre a sua cultura, ainda ajuda a passar o tempo - o que por vezes, nos tempos mortos (que não são muitos, é maioritariamente à noite), ajuda. Já os funcionários têm normalmente a identificação do país de origem. Se virem portugueses, é provável que vos façam uma festa - esta ano cruzei-me com dois, uma rapariga da Baixa da Banheira que trabalhava nas lojas (e que mandou um berro tal quando percebeu que falávamos a mesma língua que ela que eu até me assustei) e um oficial, que sorriu imediatamente quando lhe disse "bom dia" e que me agradeceu por ouvir falar português. É uma mistura interessante entre culturas e nacionalidades, onde sabe bem apreciar tanto aquilo que nos é desconhecido, aproveitando para reter algum conhecimento daí, mas também o "doce sabor a casa", quando encontramos alguém que partilhe a nossa bandeira, a nossa língua e a nossa cultura.

 

Há muito mais coisas que ainda poderia contar mas penso que, onze mil caracteres depois, já estão provavelmente bastante esclarecidos e fartos de me ler. Com este post dou por concluída a minha saga "cruzeiro 2017", que demorou a sair, mas que está finalmente completa. São publicações muito trabalhosas mas, ao mesmo tempo, muito boas de fazer: porque enquanto escrevo vivo tudo de novo. E é sempre bom reviver memórias, viagens e partilhar ideias e experiências com os outros. Que mais venham =)

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