Desenraizados
Em Agosto o que mais se ouve é francês e outras línguas europeias, os carros que mais se cruzam por nós têm "F"'s e "L"'s nas matrículas. Agosto é o mês dos emigrantes, que retornam a casa para verem as famílias, para comerem as iguarias, para matarem saudades das vistas, dos cheiros, das praias, do nosso céu. E talvez sejam bem recebidos por parte das suas famílias>, com abraços calorosos, mas o mesmo não se pode dizer do resto do população - o que acaba por ser hipócrita, tendo em conta que, neste momento, quase todas as famílias portuguesas devem ter um ou mais indivíduos no estrangeiro a ganhar a vida (eu incluída).
No fundo, como em tantas outras coisas, gostamos que os nossos venham, mas os outros não. Digam o que disserem, não achamos lá grande piada que pessoas que já deixaram Portugal há não sei quantos anos invadam as cidades do dia para a noite, que andem a passear os BMW's e Mercedes que conseguiram comprar lá fora, que falem línguas que não o português para os filhos como se eles também não tivessem num país que, por cultura, também é deles. Não quer dizer que todas as pessoas que vão viver para fora sejam assim: mas o estereótipo é esse. E não é muito famoso por estas bandas.
Porque a verdade é esta: os portugueses que vivem no estrangeiro nunca serão iguais aos de lá - e são sempre tratados de forma diferente pelos nativos, só para não dizer que são mesmo discriminados; mas os portugueses que saem de Portugal durante décadas também já não são iguais aos portugueses que cá vivem, e são vistos de forma diferente, quase depreciativa. No fundo, ao saírem, nem são de um lado nem são do outro. Em emigrações longas, as pessoas passam a ser de nenhures. São do mundo, porque já não são bem de ninguém, nem de um sítio, nem de um lugar que os acolhe em pleno.
Agosto é o mês dos desenraizados.