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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

14
Mai19

Crónica de uma ex-solteira: Contar aos outros

Acho que ninguém esperou que, mal eu tivesse um namorado, fosse contar às outras pessoas. Por todas as razões e mais alguma - e principalmente por ser uma pessoa reservada, que gosta muito de ter a sua esfera íntima bem protegida - penso que todos contavam que eu guardasse segredo até a situação estar estável. Até eu achava que ia ser assim!

Mas dei por mim sufocada na minha própria omissão. Eu não mentia, mas não dizia tudo - e sentia isso como uma deslealdade para com com aqueles que me amavam e que tinham o direito de saber que eu estava feliz. E o que me estava a fazer feliz.

Esconder coisas ou mentir está longe de ser a minha especialidade - mas, acima de tudo, eu não estava bem com a minha consciência ao inventar desculpas só para estar com uma pessoa. Eu queria poder dizer que ia estar com ele, em vez de dizer que tinha uma ida programada ao cinema, a um escape game ou à praia. Porque tendo namorado ele é, por si só, um plano - não é preciso justificações extra ou algo fora da rotina para explicar mais uma saída. 

E por isso fui contando. Uma a uma, as pessoas foram sabendo, da forma mais desprevenida e "desplaneada" possível. Quando tinha uma oportunidade (no meio de uma conversa normal ou quando me davam alguma deixa) largava a bomba e esperava pelas reações - que foram quase todas hilariantes, uma vez que ninguém estava a contar. Juro que devia ter filmado! Entre dizer que tenho namorado ou que vou fazer uma viagem à lua... a incredulidade era semelhante. Os olhares e as expressões de choque, os "estás a gozar" e as caras de espanto ainda hoje me fazem rir quando me recordo. Só nesta altura me apercebi a proeza que consegui fazer ao longo destes anos: não só acreditar piamente naquilo que dizia em relação a não querer ter namorados mas, acima de tudo, de fazer os outros acreditar no mesmo.

Depois disso - e apesar de toda a curiosidade, as bocas e o burburinho que se gerou na família à volta deste assunto - fiquei muito mais leve. Deixou de existir um elefante na sala e eu senti que fui fiel aos meus princípios. 

O passo seguinte era tornar as coisas públicas, fora da esfera familiar. E também nesse aspeto eu sentia alguma urgência em contar ao mundo - principalmente aqui, que sempre foi o meu espaço predileto de desabafo e de verdade. Não sei o que me parecia estar a passar uma fase tão bonita da minha vida sem o demonstrar ou registar aqui. Era só incoerente com tudo o que tinha vindo a fazer nestes últimos oito anos. E por isso - mais uma vez, surpreendendo muita gente - decidi escrever aquele texto, que foi uma forma incrível de expor o que estava a sentir naqueles últimos tempos, aproveitando também para organizar as ideias e os meus próprios pensamentos.

A verdade é que sempre achei parva a exposição excessiva dos relacionamentos nas redes sociais e na internet. Tenho há anos um texto para escrever cujo título seria algo como "as redes sociais são o melhor termómetro dos relacionamentos". Quando no Facebook se passa de "numa relação" para "é complicado", é porque a coisa está grave. Quando se transfere, silenciosamente, o status de relacionamento de comprometido para solteiro (apagando simultaneamente todas as fotos em conjunto que havia por entre as entranhas desta rede social) é porque está tudo condenado e a coisa foi-se de vez. Acho que é informação a mais, principalmente quando exposta no facebook - a ferramenta mais usada hoje em dia no âmbito da cusquice e da inveja alheia.

E hoje, por um lado, percebo porquê que as pessoas o fazem. Acho que nos é intrínseco querermos mostrar algo ao mundo que nos faz muito felizes - e isto é ainda mais impulsionado pelas redes sociais, onde queremos mostrar tudo o que de bom e de melhor se passa na nossa vida. E, como humana que sou, às vezes dou por mim a ter de resistir à tentação de publicar fotos nossas, principalmente porque ainda o sinto muito meu, quase impartilhável. Não quero saber da opinião dos outros, mesmo que esta seja só "que fofinhos!". Não quero saber se o acham bom ou mau para mim, giro ou feio, com cara de boa pessoa ou não; se a voz é fina ou grossa, se as mãos são grandes ou cabem dentro das minhas e se o seu sorriso é alinhado. Por um lado quero contar e mostrar, mas por outro quero combater a cusquice e a maldicência alheia, ficando nesta bolha que se vive nos primeiros tempos e que, creio, não voltará a acontecer.

Estou a usufruir ao máximo deste meio termo que consegui, entre a verdade e a não-exposição. Ainda não houve apresentações oficiais, mas também não nos escondemos - se acontecer um encontro espontâneo as apresentações já ficam feitas e o problema resolvido. Caso contrário, fica para um dia destes, sem stresses, que para já estamos a usufruir de todos os minutinhos de paz e sem qualquer intromissão alheia. De qualquer das formas, se um dia destes virem uma foto algures com um rapaz simpático e uma rapariga com um sorriso embevecido - eu - já sabem do que se trata. Somos nós ;)

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