Chávena de Letras: "Os Livros que Devoraram o Meu Pai"
Logo no momento da compra deste livro percebi que, aparentemente, eu já não fazia parte do (suposto) target para o qual esta obra teria sido escrita. "Mas este livro é infanto-juvenil", atirou logo a assistente da Bertrand quando lhe pedi ajuda a encontrar o dito cujo, como se eu não tivesse idade para ler o que bem me apetecesse. "Ou então está incluído no plano Ler+", rematou, como quem põe água na fervura.
O tamanho diminuto do livro, inversamente proporcional ao tamanho da fonte, indicam de facto ser um livro para os mais novos. Mas a verdade é que só vejo adultos a lê-lo, talvez por ter associado o nome de Afonso Cruz (a começar pela Inês, que foi quem me aguçou a curiosade sobre este livro). E é indiferente se é lido por miúdos ou graúdos.
Porque "Os Livros que Devoraram o Meu Pai" é um livro sobre livros; é uma óptima porta de entrada para quem está a (re)entrar neste mundo, independentemente da idade que tenha. É um docinho que nos adoça a curiosidade para alguns coloços da literatura, que nos dá a conhecer algumas das suas personagens e da sua história só para nos deixar espreitar um pouco lá para dentro. A "Divina Comédia", de Dante, " O Estranho Caso de Dr. Jekyll e de Mr. Hyde" de Robert Louis Stevenson ou "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury são alguns exemplos das obras mencionadas, usadas por Afonso Cruz como mundos onde a sua própria personagem habita, entrelaçando as histórias com a sua própria história.
Paralelamente a esta narrativa principal - sobre livros, livros e livros! -, decorre uma secundária que acaba por ganhar projeção no final. Foi esta que me fez gostar menos da obra. Não percebi qual a intenção do autor em levar a história para aquele caminho. Se havia uma lição de moral a retirar ou uma pescadinha de rabo na boca, não as assimilei como deve ser. E, sendo este um livro dedicado aos mais novos, temo que lhes aconteça o mesmo, e que o travo agridoce do final contrarie todo o propósito do livro: que ler é uma aventura paralela à própria vida.