Chávena de Letras: os dois primeiros livros da série Bridgerton
As duas próximas reviews podem ter spoilers. Os livros foram lidos depois de ter visto a série.
É difícil fazer a análise de um livro quando já temos na nossa posse todos os detalhes da história e conhecemos as personagens. E foi isso que me fez chegar a duas conclusões invulgares, que até podem parecer contraditórias:
1) A série é muito melhor que o livro.
2) O livro é bom (para o estilo) e difícil de "deslargar".
Aquilo que a série fez com o universo Bridgerton é só incrível; é um trabalho digno de aplauso, tendo em conta esta base de partida que, por comparação, é muito mais fraca e superficial. A série abre o espectro deste mundo criado por Julia Quinn, enquanto que o livro é extremamente focado no casal Daphne-Simon. O mais provável é que a série já tenha ido buscar detalhes dos livros futuros, de forma a construir personagens mais complexas e um universo coerente, que se adeque aquilo que vai acontecer a seguir; mas a verdade é que para além desse afunilamento da narrativa que existe no livro, na obra escrita nada mais nos puxa para além do romance. Por outro lado, a série cria todo um mistério à volta da Lady Whisteldown (que é pouco mencionada neste primeiro livro, excluindo as citações no início de cada capítulo), dá vida e conteúdo às personagens em redor dos protagonistas (Eloise, a Bridgerton com mais personalidade na série, não é mencionada no livro, por exemplo; a rainha não existe; mesmo o papel preponderante da Lady Danburry é muito desvanecido), já para não falar de todos os cenários incríveis e a música que a série apresenta.
A verdade é que, pelo menos lido à posteriori, este livro perde por comparação à série - se esta não existisse, eu provavelmente contentava-me com o que tinha lido e nem sequer questionava. Mas aqui entram de novo os contrassensos: será que eu compraria o livro se a série não existisse e se a capa não tivesse a cara das personagens? Definitivamente não. Este é o tipo de obra que faz check em todos os preconceitos de "chick lit" - desde a capa cor de rosa, passando pelo ar apaixonado da menina com as florzinhas no cabelo, culminando com cenas mais quentes que fazem as delícias de qualquer leitora ávida deste estilo de leitura.
Apesar de tudo isto, é muito provável que leia o segundo (e o terceiro, e quarto, sei lá!) - e esta é talvez esta a maior qualidade da escrita de Julia Quinn: deixar-nos presos, tanto enquanto lemos como quando pousamos o livro. Tem uma escrita fácil, fluída, empolgante. E nesta fase em que me encontro, com hábitos de leitura ainda instáveis, esta é a qualidade que mais aprecio e que mais me importa em qualquer obra que leia - mesmo que seja chick lit da mais pura.
Mais uma vez, li o livro depois de ter visto a série. E, de novo, tiro o chapéu à série, por ter sido capaz de ver para além da escrita de Julia Quinn, do enredo demasiado focado só nos protagonistas e por ter conseguido diversificar o interesse noutras personagens, não desprezando ainda assim o desejo ardente entre os dois protagonistas. Tudo aquilo que enalteci na review do primeiro livro, poderia reescrever aqui.
A história central, desta vez, foge mais ao original, comparativamente ao primeiro; tudo o que a série modifica só vem acrescentar valor, por isso não me choca - como é o caso do enlace com Edwina, que no livro nunca chega a acontecer e o arrastar do envolvimento mais sério entre Kate e Anthony, que no livro é um tanto ao quanto repentino e na série demora mais a desenvolver-se. Lady Whistledown continua nas sombras, tendo um pequeno destaque nas páginas finais do livro, o que leva a crer que a cortina se vai abrir nos capítulos seguintes.
O próximo livro será o primeiro que lerei sem ter a série como base de comparação - e confesso-me muito curiosa, por só aí poderei fazer uma crítica mais ponderada, sem cair na tentação de comparar a escrita com a criação televisiva. De qualquer das formas, acho que gostei mais do primeiro livro de Queen e algo me diz que isto vai em decrescendo... Esperemos que esteja errada. O tempo o dirá - o terceiro livro da saga já está na estante à espera de ser lido.