Chávena de Letras: "O enigma do quarto 622"
Quinto livro de Dicker no cardápio e sua consolidação como um dos meus escritores favoritos da atualidade - embora esta não seja, para mim, a sua melhor obra.
O problema de se escrever recorrentemente livros muito bons é que a nossa expectativa fica demasiado alta - e a queda, quando se dá nesses casos, também é maior. Apesar da história, como todas as outras que escreveu, nos prender até ao fim do livro, este "O Enigma do Quarto 622" peca por alguns trechos um bocadinho parvos (deixo um pequeno excerto, que guardei mal li, por me parecer imediatamente ridiculo e digno de livro de crianças: "Arma ficou furiosa. Pegou numa esferográfica e, num gesto de raiva, cobriu de traços negros o rosto de Lev, antes de rasgar a fotografia, para o fazer desaparecer. Ah, como o odiava, a este destruidor de lares que destruía a vida do seu patrão!") e por uma série de recursos levados quase à exaustão - das reviravoltas na história até às analepses (demasiado) recorrentes. Chegam a ser a analisadas quatro fases da vida das personagens em simultâneo - e a certa uma altura já não sabemos muito bem em que patamar estamos. Isto dificulta muito a análise posterior da obra; depois de tantas "trocas e baldrocas" gostava de tirar algumas dúvidas a limpo (sim, nem todas as explicações me satisfazeram) e, de tanto andar para a frente e para trás, é quase impossível encontrar as respostas que procuro. Em 600 páginas, é como encontrar uma agulha no palheiro.
Diria que o autor se perdeu no meio da sua própria armadilha, em que normalmente prende os leitores, que não deixa que larguem as páginas até chegarem ao fim. É talvez um livro demasiado longo para o que seria necessário. Ainda estou para perceber se gosto, ou não, do facto dele se ter incluído a ele próprio no rol de personagens (mais: se ter escolhido como personagem principal). Vou investigar, mas creio que há algo de muito pessoal nesta história - talvez uma homenagem ao tal editor?
Apesar de tudo isto, é mais um bom livro para acrescentar à estante. Óptimo para se ler nas férias, quando temos tempo para ler as 600 páginas praticamente de uma só vez, enquanto a curiosidade nos corrói por dentro. O fim, esse, é uma reviravolta daquelas (quando achávamos que o golpe maior estava dado, zás, eis que Dicker saca do seu último trunfo). Nisso, o escritor é rei. E, talvez por isso, continue a salivar por cada novo livro que escreve.