Chávena de letras - "Mataram a cotovia"
Eu nunca classifico os livros por "estrelas e meia", mas a verdade é que neste, dada a indecisão entre as 4 e as 5 estrelas, tenho que me ficar pelas metades e dar-lhe 4,5 estrelas.
Confesso que a culpa disto poderá ser minha, por ter criado muitas expectativas (e altas, demasiado altas) ainda antes de ter o livro em minha posse. Não há como negar que a história é deliciosa, que todas as personagens principais são magníficas e que, acima de tudo, a escrita é para lá de estupenda (apetece chorar de tão boa, tão poética, tão acertada) - mas não consigo deixar de sentir que faltou alguma coisa.
O facto da obra ser narrada por uma menina com cerca de dez anos torna tudo deliciosamente inocente e faz com que, numa ou outra ocasião, nos revejamos naquilo que diz, pensa e faz - creio que principalmente para as gerações mais velhas que ainda não tinham computadores, tablets e smartphones e por isso brincavam somente na rua, com o pouco que tinham e a imaginação lhes dava.
Para além de tudo mais, este livro é um grito à igualdade num tempo em que ela ainda pouco existia. A segregação racial era mais que óbvia e quem se atrevia a fazer-lhe frente via mesmo as suas vidas postas em causa - e isso, visto pelos olhos de uma criança com uma mente "limpa", é muito interessante de se ler. Atticus, o pai de Scout (a narradora) e Jem, é uma personagem que vale ouro e nos inspira a cada frase que profere.
É uma leitura que vale, definitivamente, a pena.