Chávena de Letras: "Mãe, Doce Mar"
Li este livro rapidamente na tentativa de não esmorecer a leitura, pois rapidamente me apercebi que o estilo de escrita não era o meu favorito. Já tinha lido João Pinto Coelho, mas se a memória não me falha, nem o "Perguntem a Sarah Gross" (que adorei) nem "Os Loucos da Rua Mazur" (gostei menos) tinham uma escrita tão poética como este "Mãe, Doce Mar". Aqui, tinha muitas vezes de reler a frases para entender o seu significado; sinto que, principalmente no início da obra a articulação das frases era rebuscada, tornando até a compreensão da história um pouco mais difícil. Um exemplo:
"Fora o mar que me arrastara e cercara a toda a volta, mas deixando à tona de água até as certezas mais firmes, agora cascas de noz à deriva no oceano. Podia dizer o mesmo daquele pedaço de terra para onde Catherine me levara. Era a ilha do tesouro ou o meu cesto de gávea, esse posto de vigia de onde eu me observava, com a distância que falta aos marinheiros de água doce."
Senti isto na primeira metade do livro. Não sei se foi por me habituar, mas na segunda tudo fluiu muito melhor - menos paragens para reler, mais cadência na narrativa e, consequentemente, mais vontade de continuar a leitura.
E a verdade é uma: que história bonita. Triste, mas bonita. As personagens são bem desenvolvidas, com uma história de fundo que justifica os seus comportamentos e forma de estar, tornando tudo muito coerente. Não adoro a forma como a história está construída, com muitas analepses em diferentes tempos, mas sei que só assim se consegue entregar o final que o autor pretende. João Pinto Coelho é sempre um autor para manter debaixo de olho.