Chávena de Letras - "A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha"
Uff, como se costuma dizer: este foi um parto difícil! Juntaram-se um conjunto de fatores que fizeram com que demorasse mais de dois meses a ler este livro: 1) a clara falta de tempo típica desta altura do ano, 2) a dificuldade que leitura que é, para mim, característica nestes livros (embora não de uma forma habitual, como vou explicar abaixo) e 3) a pouca vontade de ler, consequência da segunda razão que apresentei.
É importante dizer que David Lagercrantz imitou, de forma exímia, a escrita do autor desta (antiga) trilogia. E isso é bom e é mau. É bom porque continuamos no mesmo registo e quem é fã, como eu, sente que não saiu de casa. Mas, por outro lado, tem (quase) tudo o que de mau tinha a escrita de Stieg Larson - e digo "quase" porque, neste livro, fomos poupados a grandes descrições entediantes e complexas como havia nos livros anteriores. Ainda assim, continuam a existir muitas personagens - muitas delas claramente dispensáveis - e a forma como são introduzidas na história é deveras confusa; isto sempre foi algo que me perturbou a leitura nas outras obras e esta não foi excepção, sempre com a agravante dos nomes serem estranhíssimos e difíceis de lembrar.
O que me fez ler este livro e compra-lo mal saiu foram as saudades que tinha da força de Lisbeth Salander - mas, para meu desapontamento, sinto que tivemos muito pouco dela neste livro. Tem muito Blomkvist, muito contexto para que tudo no fim faça sentido, mas dela - a personagem, para mim, mais importante e que dá vida ao livro - houve sempre muito pouco. Só na segunda metade é que começa a surgir e, mesmo assim, de forma demasiado subtil para o meu gosto.
Por fim, acho que houve também uma coerência com os outros livros no que diz respeito à velocidade da ação: sempre muito incoerente. Umas vezes muito lento, outras vezes muito rápido. E - isto é uma constante - sempre demasiado rápido no final, onde sinto sempre que não sou capaz de absorver tudo e acompanhar os acontecimentos, tendo a ideia de que faltaram peças do puzzle por encaixar.
Não sei se é propositado ou não, mas o autor deixou sem dúvida espaço para que mais livros fossem escritos, deixando claro que ainda há muita água para correr debaixo da ponte que é a vida de Lisbeth Salander. Se assim for, não sei se vou continuar a acompanhar as suas aventuras.
Este não é um grande livro mas já deu, ao menos, para matar algumas das saudades que eu tinha de uma das minhas personagens preferidas de sempre.