As idiossincrasias das bolas de berlim
Sempre fui muito esquisitinha. Não gosto de nada que fuja da norma, de comida gourmet, de temperos arrojados, de especiarias, de texturas estranhas, de vegetais, de papas ou coisas moles. Sou muito simplória no que toca a comida, vá. Mas pode-se dizer que na praia viro uma pessoa bastante eclética.
Há uns anos escrevi aqui sobre a bolacha americana de côco - uma delícia que, pelos vistos, entrou em extinção este ano. Enquanto estive no Algarve chamei pela senhora, que me disse que já não faziam essa pequena relíquia da praia. Uma pena. Era óptimo e muito menos enjoativo que a bolinha. Mas enfim, uma pessoa aceita - ainda que com uma tristeza no estômago, de quem sabe que não vai voltar a provar uma coisa destas tão cedo.
Ataquei portanto o senhor das bolinhas com uma descoberta que tinha feito o ano passado: "tem bolas de beterraba?". "Não, já não fazemos de red velvet". Tau! Mais uma machadada neste meu coração, mais um golpe duro nas minhas papilas gustativas. Tudo num só ano... Mas ele colmatou: "mas temos de tinta de choco!".
E foi assim que eu comecei a começar bolas de berlim pretas, para grande impressão de todos os que me rodeavam. Mas choquem-se: são boas! Tal como as da beterraba, o doce é cortado por estes sabores mais atípicos, tornando os bolos muito menos enjoativos. Fiquei muito fã!
Quando agora fui para o Alvor a escolha das bolinhas era mais reduzida - embora a escolha por entre os vendedores seja bem mais vasta. Se em Albufeira há com creme, sem creme, morango, Nutella, doce de leite, tinta de choco, entre outros, no Alvor ficam-se pelo básico. Mas, mesmo assim, tornei a inovar: marcharam umas bolinhas de alfarroba que, para mim, batem as bolas simples.
Agora estou em Vila Praia de Âncora e não há grande alternativa: ou é com creme ou não há nada para ninguém. É o fechar de um ciclo: começo nas estranhas e regresso à base, normais mas fresquinhas, tal como se querem.
Aguardo agora com ansiedade os novos sabores do próximo ano. Bolas de café, para abrir a pestana em plena praia? De maracujá, com um toque crunchy? De abóbora menina, já a antecipar sabores de natal? De cenoura, com toque caseiro? Ou uma total inovação, como bolhinhas de carvão ativado, para evitar os gases noturnos?
Ficam as ideias, senhores das bolas. Surpreendam-me!