As feridas que não saram
Há questões sensíveis em todas as vidas e as minhas estão quase todas centradas nas relações humanas. Tocar no assunto "amigos" e "namorados" é algo perigoso, com que só eu sei lidar - e por isso só eu é que posso falar e gracejar. Da mesma forma que, ao longo dos tempos, aprendi a rir-me de mim própria quando sou um zero à esquerda na zumba, também aprendi a lidar com essa grande falha minha, as relações com os outros, rindo-me e fazendo piadas que, ainda que genuínas, não podem ser proferidas por ninguém para além de mim. Porque eu posso chorar rir das minhas figuras enquanto finjo que danço, mas não acho assim tanta graça quando os outros se riem de mim. São métodos de auto-defesa que todos nós arranjamos para colmatar as nossas falhas, mas que são uma espécie de pensos rápidos: tapam a ferida, escondem-na aos olhos alheios, mas nós sabemos que elas estão lá porque somos nós que sentimos a dor.
As culpas (maioritariamente minhas), as razões (muitas) e as desculpas (também outras tantas) são temas para autênticas dissertações, pouco próprias para quando estamos a escrever no telemóvel, já com um olho aberto e outro fechado - algo que está a acontecer agora. Ainda assim, hoje doí-me e escrever sempre foi o meu melhor remédio.