"A escola desvaloriza o sucedido"
Eu não fico admirada por jovens decidirem matar-se porque são vitimas de violência na escola. Não é qualquer um que aguenta o peso da humilhação, da violência, de não ser "gostado", de ser constantemente gozado. A mim choca-me, sim, o facto das escola não fazerem nada! E não me venham dizer que têm psicólogas para lá de espectaculares que ajudam os meninos - porque muitas vezes quem precisa de ser ajudado, mais do que as vítimas, são aqueles que agridem, mas receio que nesses casos uma mera e fantástica psicóloga não seja o suficiente!
Relativamente a este caso mais recente que se sucedeu em Braga, segundo se sabe, o rapaz tinha sido despido no meio da escola por colegas. "A escola desvaloriza o sucedido". Como raio é esta merda possível (e vai mesmo com termos em calão, que preciso de descarregar a raiva em algum lado)?! Sim, porque segundo sei, ver um rapaz a ser despido por colegas em pleno Inverno é procedimento normal em qualquer escola, não é? Então não há professores a passar, a sair e a entrar nas salas? Não há auxiliares de educação? Não há outros colegas com bolas suficientes para irem chamar alguém?! Por amor de deus, se há situações que me revoltam são estas.
Não sei de que ano era o rapaz - mas numa escola básica nenhum aluno tem estrutura suficiente para aguentar isso. Se, muitas vezes, os adultos ficam com depressões por razões semelhantes, como é que crianças e adolescentes (que estão numa fase de transição, muitas vezes frágeis embora se façam de fortes) aguentariam? É óbvio que, hoje em dia, com tanta série de assassinos e mortos e telenovelas que metem sempre suicídios ao barulho, arranjar uma forma para ir para longe deste mundo não é difícil, mesmo para alguém menor de idade!
Não admito a ninguém que desvalorize o bullying. A ninguém. Porque só quem passa por elas é que sabe, e eu acho honestamente que muito do que me tornei foi por causa de uma situação destas em que me colocaram no limite - cresci demasiado rápido quando não devia e, se calhar por isso, é que sou o que sou: mais sisuda, mais responsável que o normal, jogo sempre na defensiva, não dou confiança a ninguém, não gosto de contactos físicos e, por ventura, razão até da minha solteirice aguda. Felizmente não cheguei ao ponto que o rapaz chegou, mas sei que não é difícil lá chegar. E sei hoje aquilo que ele nunca mais vai poder saber: que deixa marcas, que não se desvanece da memória... mas que passa. E tenho muita pena que nunca ninguém lhe tenha dito isso e dado alguma esperança.
Estou farta da ineficácia das escolas neste campo. Não me ofereço para sugerir opções diplomáticas, simpáticas e moralmente correctas para estes casos - a minha racionalidade não vai tão longe; porque o meu tratamento a todos os crápulas-miúdos que fazem destas coisas não seria nada simpático.