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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

04
Dez17

Eu julgo as pessoas pelos seus carrinhos de compras

Julgar é feio, eu sei. Mas, na verdade, isto não se trata bem de um julgamento: é mais um conjunto de ideias, características e histórias que eu obtenho através daquilo que as pessoas levam nos seus carrinhos de compras e pela forma como agem quando estão numa fila de supermercado - e, em minha defesa, posso também dizer que faço o exercício inverso. Ou seja, penso muitas vezes "o quê que as pessoas pensariam de mim perante os produtos que tenho aqui em cima do tapete?"

Isto depende muitos dos dias, do meu estado de humor, da má-língua e até do tipo de compras. Sobre aquelas pessoas que compram poucas coisas - muitas vezes aquisições de última hora ou os ingredientes para o jantar - eu tento adivinhar quais os pratos que vão sair dali; em compras mais substanciais, tento mesmo decifrar o estilo de pessoa, passando primeiro pelos produtos e depois para uma avaliação superficial do próprio indivíduo. Vejamos algumas das categorias que costumo encontrar:

- Os saudáveis (onde se incluem também as fit, que não são necessariamente saudáveis, mas pelo menos parecem): o carrinho está frequentemente recheado de proteínas, carnes brancas, skyrs, óleo de coco, aveia e coisas assim; esta é talvez a tipologia mais rara.

- Os "não-saudáveis": estas não são, necessariamente, as que trazem mais gordices no carrinho, mas sim aquelas pessoas que às vezes têm filhos e lhes levam pacotes de todos os cereais possíveis - estrelitas, chocapic, kellogs com frutos vermelhos -, iogurtes gregos de caramelo, bolachinhas dos crocodilos, rissóis e pizzas congeladas. Dou sempre por mim a pensar "será que esta senhora sabe a quantidade de açúcar que está naqueles cereais?" e na falta de clareza que há neste sentido, não sendo este um julgamento necessariamente pejorativo (no sentido de pessoas gordas, por exemplo) mas sim de alguma desinformação.

- Os gulosos: estes, ao contrário dos não-saudáveis, sabem bem o que levam no carrinho - e que, no caso das mulheres, se vai transferir diretamente para as ancas e, no caso dos homens, para a barriguinha. Chocolates, gomas, sugos, gelados. Tudo uma maravilha... mas não há bela sem senão, e nós sabemos disso.

- Os caça-promoções exagerados: detetam-se à distância através dos carrinhos estilo monopólio - só levam um tipo de produto em quantidades abismais e ridículas, que só um exército é que é capaz de deitar abaixo durante um mês inteiro, seguido, e sem pausas. Mas estava em promoção, por isso vale a pena.

- Os cupõezaólicos: este tipo de pessoa não se vê bem pelo conteúdo do carrinho - a menos que sejamos, também nós, cupõezaólicos e saibamos que tudo o que está ali é patente de uma promoção - mas sim pelos dezassete minutos que as pessoas demoram a ir buscar os cupões, a procurar os cupões, a ler os cupões, a entregar os cupões, a guardar os restantes cupões. Enfim. Cupões e cupões e cupões.

- Os esperançosos: bastante comum no dia dos namorados - uma rosa, morangos e preservativos. É fácil tirar-lhes a pinta.

- Os desorganizados: isto não tem que ver com o conteúdo do carrinho, mas sim com a forma como as coisas estão arrumadas. Estas pessoas chumbaram na disciplina do tetris e estão matam um obsessivo-compulsivo de cada vez que atiram impiedosamente mais um item para dentro do carrinho, não respeitando a regra do mais-pesado-por-baixo e outras coisas que tais;

- Os jovens pré-ressaca: o vodka mais barato da secção, copinhos de plástico e nada para comer, que é para o álcool bater o mais rapidamente possível e eles nem se lembrarem que aquela noite existiu;

 

No fim disto tudo, e fazendo uma avaliação global da minha pessoa, gosto de pensar que sou uma boa mistura entre o saudável e o guloso. Ou então sou simplesmente aquela pessoa que vai só buscar pão e que mal põem o pé fora do supermercado já está com uma bucha na boca, o que me abre toda uma nova categoria: a esfomeada. Assenta-me que nem uma luva.

15
Nov17

As impressoras são a ralé dos hardwares

Há algumas coisas que detesto nesta vida. Para além daquelas coisas básicas que toda a gente sabe e que também detesta (médicos, cobras venenosas, agulhas, trânsito e etc.) há um leque de outras coisas muito irritantes nesta vida. Como empresas de telecomunicações (quem nunca protestou e quem nunca se sentiu roubado por uma?) ou, no meu caso, impressoras. Eu tenho um caso sério de ódio por impressoras porque elas pensam que são gente. E, pior que gente, são gentinha de nariz empinado, com mania que têm uma personalidade forte, quando na verdade são só parvas. 

No mundo informático há tantas outras coisas de que não sou propriamente fã - começamos, de uma forma geral, com os macintosh e podemos acabar com o magnífico iTunes, óptimo para arrancarmos todos os cabelos enquanto tentamos fazer algo de útil com ele. Mas em termos de hardware as impressoras ganham num abrir e piscar de olhos. Elas recusam-se a operar quando têm um (um!) dos tinteiros vazios; elas não desligam quando estão empancadas numa "operação em curso" mesmo que cliquemos em todos os botões ao mesmo tempo de forma a despoletar uma overdose de cliques; elas têm botões para digitalizar e mandar faxes mas nunca funcionam - para tais funções serem ativadas tem de ser através do software do computador; quando vamos ao software, ele diz-nos que a impressora está desligada quando nós podemos jurar pela nossa mãezinha que ainda há trinta segundos a filha da mãe imprimiu uma página de teste; depois de o status passar a ligado, ela acha que ainda não está na hora de trabalhar, colocando-se misteriosamente "em espera"; quando por fim ela decide digitalizar o que quer que seja, demora 5 minutos em cada página, qual caracol lento e enraivecido por se ter levantado cedo da cama; quando é para mudar de tinteiros fazem birra - uma pessoa põe um e elas não detetam, torna a tirar para tornar a colocar e nada... só passados 15 minutos é que elas fazem "plim", como quem diz "na na na na na naaaa, estava só a brincar!". Enfim. É de ir à loucura.

E das duas uma: ou eu tenho muita pontaria nas impressoras que escolho ou então elas são todas assim. Porque esta não é a primeira que eu tenho - é pra'i a quarta! E são todas assim, "espíritos livres", como lhe chamaria alguém mais educado e apaziguador. Eu, só assim ao de leve, acho que são umas cabrinhas, vá. 

Há uns tempos tive de ir comprar uma para a empresa onde trabalho. Sabendo que os maus humores deste dispositivo iam sobrar para mim, cortei o mal pela raiz: aquilo não digitaliza, não envia faxes, não tem cores, não tem A3 nem A5 nem todos esses tamanhos desinteressantes, não tem ecrã, não tem teclado, não tem NADA. Só imprime, a preto e branco, e bem rapidinho - as folhas saem que nem pãezinhos quentes. Sei que depois disto o sindicato das impressoras - que de certeza que ainda é mais insuportável que o dos professores - se vai unir contra mim e a filha da mãe vai deixar de trabalhar, à custa de uma greve provocada por insultos àquela classe operária. Mas aoCabrinhas.

 

impressora.jpg

 

06
Nov17

Tenho uma confissão a fazer

Acho que está na altura de abordar um tema fraturante da sociedade. É melhor ir direita ao assunto e não estar aqui com falinhas mansas: eu não gosto do boomerang. Pronto, já disse, é a verdade! Acho aquela aplicação uma chatice, fico farta de ver trinta vezes as mesmas coisas quando não têm piada ou assunto. Achei que tinha potencial quando saiu, mas rapidamente me apercebi que as pessoas generalizaram a sua utilização de tal forma que uma pessoa até foge quando vê um instastory com aquilo.

O boomerang só é giro quando há duas posições bem marcadas que contrastam entre si: quando as sobrancelhas sobem e baixam, quando a máquina fotográfica dá um flash, quando os olhos e a boca abrem e fecham. Percebem o conceito? A ideia não é mexerem o smartphone no meio da rua, como se fosse um filme rasca com shaky camera; o objetivo não passa por fazer um zoom literal nas coisas (que é como quem diz andar com o telemóvel para a frente e para trás); não é suposto apanhar as pessoas desprevenidas quando estão simplesmente a falar e a imagem se torna num conjunto de movimentos indecifráveis - e repetitivos - dos lábios.

O pior disto tudo é que há claramente fanáticos do boomerang, que utilizam a ferramenta para tudooo o que captam com a câmara. Mas as coisas ainda pioram se atentarmos ao facto de que publicam tudo isso nas instastories e no instagram, poluindo todo o nosso feed. Porque há coisas que têm piada e a verdade é que o boomerang foi criado com um propósito (que até faz sentido) - mas as repetições são tantas e passam tão rápido que é impossível ver o que quer que seja de forma decente. Por isso não passa mesmo de uma coisa com graça mas sem qualquer utilidade prática.

Hoje em dia os likes é que importam; o sucesso, a beleza e as capacidade de uma pessoa medem-se pela sua popularidade nas redes sociais e por isso quase nos sentimos olhados de lado quando admitimos não gostar de algumas destas coisas da moda. Mas, meus amigos, está na hora de quebrar o tabu e de dizer não às utilizações-estúpidas-e-desregradas-do-boomerang. Juntos somos mais fortes e sobreviveremos às 256 repetições que nos obrigam a ver diariamente em redes sociais alheias. Há que ter fé.

31
Out17

Uma mensagem a todos os craftycóolicos* como eu

Tenho rotinas muito fixas de manhã, logo depois de acordar. Uma delas é ficar durante um bocado na cama a jiboiar (e a acordar), ao mesmo tempo que pego no telemóvel e divago entre as mais variadas redes sociais, blogs e email. E enquanto estou a fazer scroll no feed do facebook, uma das coisa em que costumo parar são aqueles vídeos de três minutos ao estilo "5 utilizações da pasta de dentes que não fazia ideia", "ten hacks with bobby pins" ("dez truques com ganchos") ou temas do género, com clara importância universal.

Eu sei, eu sei: é quase vergonhoso admitir isto. Mas eu gosto! E tenho aquela reação típica de pensar "será que isto funciona mesmo?" e até guardo os vídeos para ocasiões futuras. E é claro que nunca, mas nunca os utilizo. Alguém acha que eu me vou lembrar de pôr Coca-Cola na parede para tirar manchas? Ou de lavar as mãos com pasta dos dentes para tirar o cheiro a cebola? Ou de abrir uma carica com o cinto de apertar as calças? Não acontece. Mas eu gosto de ver na mesma, acho todas aquelas ideias geniais (principalmente aqueles vídeos que dizem "10 dicas para sobreviver no campismo", que implicam o corte de latas de salsichas - e que provavelmente acabariam comigo numa maca de hospital com um corte grotesco algures no braço), mas depois nunca usufruo delas - até porque muitas implicam uma dose elevada de bricolage, algo que normalmente não me assiste.

Mas há uma semana fiquei deveras orgulhosa de mim porque finalmente tirei partido dos muitos minutos que perco a ver estes vídeos. Eles são pequeninos, é verdade: mas à quantidade que consumo, já lá vão algumas horas de vida. Tudo para culminar nisto: há uns meses comprei umas calças na Pull&Bear, das quais gosto muito, mas que me magoam um bocado na barriga. Elas têm o tamanho certo, mas apertam com botões, não têm o clássico fecho zipper: ou seja, quando me sento, as calças ficam dobradas para dentro e apertam-me o estômago. É daqueles defeitos que uma pessoa só dá conta depois de usar as peças, enquanto que nos provadores parece tudo maravilhoso e espetacular. 

Passei a usa-las pouco porque, infelizmente, passo muito tempo sentada e aquele aperto me deixava em agonia. Até que se fez luz! Lembrei-me de uma técnica que vi nesses vídeos - na altura, era para ser usada em grávidas, mas uma pessoa tem de ser prática e ver as potencialidades de cada solução - fui buscar um elástico, enfiei-o na casa do botão e fiquei com muito mais espaço para respirar com liberdade. (Explicar isto por palavras não é tarefa fácil, mais vale verem a imagem abaixo). 

Isto tudo para dizer que todos aqueles minutos matinais perdidos a ver vídeos em páginas do facebook de utilidade duvidosa podem, comprovadamente, dar frutos. A todos os membros da comunidade craftycóolica*, da qual obviamente faço parte, quero transmitir uma palavra de esperança. Acreditem: os nossos minutos não são em vão e um dia algo daquilo nos vai ser útil! Palavra de craftycóolica!

 

*palavra que deriva de crafty, uma das páginas populares do facebook dedicada a este tipo de vídeos

 

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06
Out17

O meu jardim zoológico de sonho já é quase uma realidade

Passo a vida a dizer aos meus pais, em tom de brincadeira, que um dia (“quando for grande”) vou ter um burro, uma cabra, um porco e uma alpaca. De vez em quando lembro-me de juntar um outro animal à lista – acho que a girafa já fez parte, assim como uma vaca – mas este é o núcleo duro do meu “futuro” grupo animal.

Que dizer…? Tenho uma panca. Gosto muito de animais e como sempre achei que ia viver sozinha quando fosse mais velha, sem marido e sem filhos, começou-se a afigurar uma boa ideia ter uns animais de companhia para além dos cães e dos gatos (sim, porque para além daqueles bichos ainda quero um daqueles gatos sem pêlo que toda a gente detesta e eu adoro).

Tudo começou com o porquinho: há anos que adoro aqueles porquinhos-anões, que dormem em casa e que agem quase como cães domésticos (lembram-se deste instagram que um dia mostrei aqui?). Depois foi o burrinho – adoro burros, são dos meus animais preferidos e sinto-me sempre mal por se chamarem “burros” quando, na verdade, disso têm pouco. Sempre adorei cabras e o facto de serem todas espevitadas e irreverentes; já a alpaca… nem me lembro bem como surgiu, mas foi uma paixão à primeira vista.

Os meus pais passam a vida a revirar os olhos, dizendo que vou tornar esta casa num jardim zoológico. Eu rio-me com a perspectiva, embora saiba que não se vai tornar realidade (ok, talvez o burro...) – tenho pouco tempo para cuidar dos animais e conviver com eles, eles dão trabalho e encargos e eu sei que se um dia tivesse uma cabra ou um porco, nunca mais comeria este tipo de carnes, o que não é algo que (para já) esteja nos meus planos.

Mas, apesar de tudo, esta é uma conversa recorrente aqui em casa. Basta ver um burro na televisão para ficar toda derretida, quase que a pedir um burrinho como prenda de Natal, e isto tem originado uma série de prendas curiosas por parte da minha família. A primeira foi um “porco”, precisamente na quadra natalícia. “É uma coisa que queres muito!”, diziam-me. Abro, curiosa, o presente disforme e sai-me de lá um porco de peluche. “Não passas a vida a dizer que queres um porco como prenda?!”, responderam perante o meu olhar confuso.

Depois, como se um porco não fosse suficiente, ainda me deram outro. E, por fim, como não podia deixar de ser… um burro. Ou seja: o meu zoológico está quase a tornar-se realidade, mas em versão peluche. Por isso, se um dia virem algures no meu quarto animais fofos e peludos, não se assustem: primeiro porque não são reais, segundo porque eu sei que já não tenho idade para brincar com estas coisas. Percebam que é só o começo da minha quintinha, patrocinado pela minha família, sempre atenta aos meus pedidos-animais.

09
Jul17

Precisamos de falar sobre as novas bóias que invadiram o país

Quero aproveitar este dia em que o verão está meio descaracterizado, o sol escondido e uma humidade de pôr, literalmente, os cabelos em pé (as raparigas sabem do que eu estou a falar) para falar de um assunto que me tem deixado apoquentada durante os últimos meses.

Não sei se se lembram de eu ter feito, há um ano atrás, um post em que falava da falta de diversidade das bóias neste país. Na altura até deixei algumas sugestões de possíveis novos designs que pudessem aumentar a “fauna boial” do mar português, tais como “um polvo, um robalo, uma sardinha tão tipicamente portuguesa? Ou uma gaivota, um linguado ou uma amêijoa, se queremos pensar fora da caixa.”

Passou-se um ano e puff, do nada apareceram bóias de tudo e mais alguma coisa. Eles são ananases, melâncias, flamingos, unicórnios, dónuts meios trincados, cisnes brancos, cisnes negros… toda uma panóplia de novos insufláveis, que custam os olhos da cara mas que, ainda assim, invadiram os instastories de todo o verdadeiro português.

A minha questão é: e eu? Eu, que alertei para este problema gravíssimo que estava a deflagrar na nossa costa. Eu, que dei sugestões para mais e melhores bóias, inclusivamente com símbolos tipicamente portugueses. Eu, que divulguei a causa, cheia de compaixão por esses mares sem diversificação. Nem um royalty, nem um obrigado, nem um raio de uma bóia de graça. É triste esta vida, não é?

Embora na altura em que escrevi o post – e que causei todo este movimento “pró-bóia” – estivesse na praia, de papo para o ar, sem fazer nenhum e a ter ideias graças ao demasiado tempo livre que tinha, por estes dias, ainda que muito atarefados, tenho tido tantas outras ideias passíveis de serem usurpadas por marcas sem coração, que nem uma agradecimento fazem a esta pobre alma. Posto isto, vou só ali ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial registar as minhas ideias – claramente valiosas - e depois falamos, ok? (É que nem uma bóia!)

 

Flamingo-Brinquedo-Piscina-Piscina-Flutuante-Infl-

10
Mai17

Review da semana #20

O partidor de ovos ou CoisasSupostamenteInúteisQueComproNoEbay, parte 2#

 

Há uns meses tive uma insónia e, já em desespero de causa, liguei a televisão em busca de algum consolo e companhia, uma vez que o sono não estava para chegar. Calhou nas televendas. Entre fazer zapping e não fazer, vi um anúncio de uma ferramenta “partidora de ovos” e delirei com aquilo. Custava uma pequena fortuna para aquilo que fazia (podemos partir os ovos à mão e sem custos, não é verdade?) mas eu achei a ideia hilariante.

Passado uns tempos, nas minhas pesquisas por gadgets-giros-e-potencialmente-não-funcionais no ebay, lembrei-me de pesquisar pelo partidor de ovos e, como é lógico, encontrei (há alguma coisa que não exista no ebay?). Estava a um preço muito mais simpático do que nas televendas e, numa de gozo, mandei vir.

Quando chegou já nem me lembrava do que aquilo era e fiquei um bocadinho a olhar para aquele objeto estranho como um boi olha para um palácio. Quando percebi, fui a correr ter com a minha mãe – outra experiente em gadgets-de-cozinha-giros-que-servem-para-pouco – para lhe perguntar se adivinhava o que era aquilo. Não chegou lá. Ri-me que nem bandeiras despregadas enquanto lhe explicava e ela resmungava que a dita ferramenta não servia para nada.

Mas bom, eu estava era em pulgas para a pôr em prática. Ansiava pela minha próxima tarte ou bolo para levar a uma festa de família só para ter de partir ovos. Estava híper curiosa para saber se aquilo ia funcionar – e, pelo aspeto, achei mesmo que ia ser um flop. Por isso filmei a minha primeira reacção, quando estreei o partidor de ovos.

 

 

Funcionou! E funcionou tão bem que não consegui não rir – muito! – com o sucedido. No vídeo não se vê porque a peça não estava encaixada, mas pode acrescentar-se uma pecinha por debaixo do sítio onde o ovo é aberto de forma a separar a gema da clara – o que torna isto ainda mais completo e “sério” (se é que isso é sequer possível).

Já testei mais vezes e foi muito raro o ovo em que isto correu mal. É óbvio que não é uma ferramenta essencial em todas as cozinhas, as nossas mãos fazem perfeitamente este trabalho… mas tem piada. E as gargalhadas que dei enquanto abri estes ovos, já valeu os três euros que dei por isto.

Podem comprar aqui.

17
Mar17

Eu, ignorante de leguminosas, me confesso

Gosto de todas as semanas ir à feira - já o tinha dito aqui que, para além de ser velhinha de alma por todas as outras razões, até nisto pareço ter 80 anos. Vou à feira, levo carrinho de mão para não transportar os quilos de fruta nos braços e, se tal não bastasse, ainda lá vou ao início da manhã, antes de ir para o trabalho.

A verdade é que no verão não é estritamente necessário ir com as galinhas, porque só costumo ir à fruta e essa há sempre para dar e vender, mas nesta altura do ano gosto sempre de comprar agriões - que não tenho aqui na horta e são os meus legumes favoritos para pôr na sopa - o que só se arranja de manhã (pelo menos vivos e com bom aspeto, porque depois do meio dia, os que sobraram, já estão todos com um ar morto e enterrado). O problema é que eu sou uma ignorante no que a leguminosas diz respeito. 

Normalmente faço-me de hiper distraída, olho para a banca cheia de tralhas com um ar meio esgazeado, como se não encontrasse nada, e pergunto à senhora a quem compro sempre os legumes: "Bom dia! Então e agriões, não tem?". E ela lá me diz, com um sotaque carregado, que "estão aí em baixo, do seu lado esquerdo" ou "estão mesmo à sua frente, freguesa!". Mas hoje era ela que estava (verdadeiramente) esgazeada, com clientes para trás e para a frente e sem tempo para olhar para o lado, e eu senti que tinha de arriscar se não queria ficar ali a manhã inteira. Já me tinha acontecido e quando cheguei a casa levei um sermão porque em vez de agriões... trouxe espinafres.

E hoje, enquanto me baixava para apanhar os meus espero-que-sejam-agriões, rezava para não me enganar. Pus um molho numa saca, outro noutra. Nisto, uma senhora pergunta "menina, não tem espinafres???". "Tenho querida, estão ali". O "ali" era ao meu lado. Sim, no sítio onde tinha ido os buscar os meus espero-que-sejam-agriões. Mas a verdade é que as coisas estavam todas empilhadas, coladinhas umas às outras, um manto de verde sem fim. Olhei para aquilo em que a senhora tinha pegado e que tinha a certeza serem espinafres e olhei para o que tinha no meu saco. Olhei de novo. E de novo. E depois de nem sequer conseguir ver muitas diferenças, aceitei o facto de que mesmo que fossem espinafres aquilo que eu tinha ensacado, já não ia ter lata para os pôr de novo no sítio e pegar nos agriões-verdadeiros. Pedi para pagar e o meu coração relaxou um bocadinho quando ela me pediu 70 cêntimos por molho - é aquilo que pago sempre, mas uma pessoa nunca sabe se os espinafres valem o mesmo. Por isso fiz a prova de fogo: vim para casa.

Mal cheguei, avisei logo: "acho que trouxe espinafres". Mas não! Afinal eram mesmo agriões. Acho que tenho uma inaptidão natural para comprar legumes. Ou então sou mesmo cegueta.

 

(E olá! Estou de volta!)

28
Fev17

Ora então... bom Carnaval!

Que me perdoem os foliões, mas eu não gosto nada do Carnaval. Acho que mesmo quando era pequena não era algo com que vibrasse muito. Tive um Carnaval que me marcou muitíssimo, passado com a minha família, mas não passa disso. Acho que a última vez que me fantasiei foi há uns oito anos, para uma festa onde uma amiga minha me levou de arrasto: fui de gato, esquecendo-me (na minha inocência) de que este animal fofinho tem uma conotação meio sexual, e passei a noite a ouvir "miaus" e coisas do género. Já não me bastava ter de estar numa festa e ainda levei com aquilo. Jurei que, enquanto me lembrasse, não me metia noutra (e, como se vê, ainda me lembro muito bem, portanto o retorno não está para breve).

Mas a verdade é que mesmo não participando no Carnaval há já muitos anos, em Maio do ano passado tive os meus 10 minutos carnavalescos, patrocinados obrigados pela minha mãe. Quando em Londres, numa visita a Camden, andávamos lá às voltas até que a minha mãe encontrou uma espécie de estúdio de fotografia, onde as pessoas se mascaravam para fazer sessões fotográficas temáticas; sei que havia três temas possíveis, mas só me lembro das damas antigas e da máfia. No fundo, é um souvenir personalizado (e caro) de uma visita a Londres.

A minha mãe delirou com aquilo, adorou a ideia, mas eu disse logo que nem pensar, não me ia vestir coisíssima nenhuma. Mas o dia não nos estava a correr bem, estávamos com o estado de espírito pelas ruas da amargura e, numa segunda passagem, a minha mãe voltou a folhear as fotos que havia à entrada e quis fazer uma coisa daquelas. E, pronto, uma pessoa pelas mães faz tudo. Lá escolhemos o tema, as roupas e os acessórios (eram postos por cima das nossas roupas), as raparigas puseram-nos um bocado de maquilhagem e lá fizemos a sessão fotográfica. Foi uma coisa de partir o coco a rir, eu achava que estava alucinar e nem me acreditava que me tinha metido naquilo. O fotógrafo dizia-nos como segurar no livro, para levantar o queixo, para olhar para o canto, para fazer isto e aquilo... e eu estava sempre à beira de um ataque de riso.

Ataque de riso esse que aconteceu mal nos sentamos no sofá e começamos a ver as fotos. Nem sequer consigo explicar bem, mas sei que estavam já outras pessoas a ser fotografadas (aquilo era um open-space, só com umas cortinas, o cenário era todo o mesmo para os diferentes temas mas tinha "cantos" específicos para cada um) e eu e a minha mãe começamos a rir-nos estéricamente daquilo que estava a passar no ecrã. Eu chorava, chorava, chorava de rir... acho que mal respirava. De cada vez que a rapariga mostrava uma nova, eu ia morrendo. Foi uma risota pegada e um drama para conseguirmos escolher três para imprimirmos e trazermos para casa (no início, só pensávamos trazer duas... mas as pérolas eram tantas que não deu para evitar).

Lá escolhemos, pagamos e mais tarde passamos para as levantar. Quando as vimos, voltamos a rir-nos à gargalhada. De facto, a experiência teve muita graça, mas aquilo é algo tão fora de mim que só mostrei as fotos a um par de pessoas (já a minha mãe, mesmo contra todos os meus pedidos, esparramou aquilo no facebook...). Ainda hoje, quando passo pela foto que a minha mãe emoldurou (!!!), me encolho de vergonha. Sim, teve graça, mas ainda não me acredito que posei como Dama Antiga, com um fotógrafo a dizer-me o que fazer e o diabo a quatro. 

Há uns dias, enquanto pensava no Carnaval e nos posts aqui no blog, lembrei-me disto. É uma pérola que tenho escondida há quase um ano - aliás, quando tive as fotos na mão, achei que as ia guardar para a vida. Mas a verdade é que há coisas demasiado boas para estarem escondidas - e embora esta seja uma faceta que, no meu caso, é pouco comum e que, sinceramente, eu tenho muita dificuldade em mostrar, ela há-de existir algures em mim. Por isso, meus amigos, bom Carnaval.

 

IMG_4425.JPG

21
Fev17

Quem foi o génio que decidiu pôr uma série dobrada em Portugal?

Este fim-de-semana, enquanto tomava o pequeno-almoço, liguei o AXN só para fazer barulho de fundo enquanto comia - era melhor que os desenhos animados que passavam na RTP2 ou a missa que dava no primeiro canal. Ao menos via um pedaço de uma série qualquer e ficava entretida. Mas quando liguei, e sem qualquer tipo de espanto, passavam anúncios. Estranhei quando ouvi várias vozes portuguesas, naquilo que me pareceram ser cenas de ação ou de diálogo, e olhei para a TV.

Fiquei em choque quando me apercebi que o anúncio estava dobrado para português. Sim, essa coisa horrível, típica de brasileiros e espanhóis, que fazem com que séries e filmes sérios pareçam autênticos desenhos animados, enquanto alguém fala por cima da imagem de outra pessoa que se nota perfeitamente que não está a dizer nada daquilo que ouvimos. É absolutamente medonho. Apressei-me a escrever no facebook e a comentar aqui em casa, mas o assunto morreu.

À noite, quando falava com a minha cunhada, ela comentou comigo que aqui há dias tinha visto uma série no AXN dobrada, que tinha ficado espantada com o que viu - e aí é que me caiu a ficha. Eu achei, na minha ingenuidade, que o AXN tivesse tido um ataque de loucura (ou pelo menos de experimentação) e passado apenas (!) um anúncio dobrado, tal como faz o TLC; o que nunca me passou pela cabeça é que a série fosse, efetivamente, dobrada! No TLC os anúncios passam todos em português mas as séries mantêm o formato original, apenas com legendas. Mas, no caso do Einstein, pelos vistos não acontece o mesmo.

É claro que fui logo a correr ao facebook do canal, já a prever o chorrilho de críticas que por lá havia. Não me enganei. Aliás, o primeiro comentário já era mesmo um esclarecimento do próprio AXN, em que dizem "As séries dobradas não perdem o seu valor original, ganham um novo valor, como se pode comprovar em vários países. No caso de Einstein, os diálogos são tantos e tão rápidos que não era possível legendá-los todos porque se sobrepunham continuamente, e acabávamos por perder muito conteúdo importante e imprescindível para poder entender a história. Como tal, e para benefício do espetador, o AXN decidiu assumir a dobragem da série.". Ri muito. 

Não havia um único comentário positivo relativamente à dobragem. Um! O que não me surpreende, porque em Portugal só se faz dobragens nos filmes de animação - e, mesmo assim, conheço muito boa gente que vê as versões originais (eu me confesso). Não temos essa cultura - e ainda bem! Por só ouvirem as suas línguas é que os brasileiros e os espanhóis não conseguem falar mais nada direito; já nós apuramos os ouvidos desde pequenos e desde sempre que nos habituamos a ler legendas. Para além de que temos uma aversão natural a tudo o que é dobrado, tal como os hispânicos parecem ter ao inglês e línguas estrangeiras. 

Por acaso nunca calhou de ver a série, mas tenho a certeza de que não aguentaria dois minutos a ver algo de ação com as nossas vozes de pasmaceira (mesmo que estejam aos gritos, o português nunca parece fidedigno neste tipo de cenas, desculpem lá). De qualquer das formas, já vi um comentário algures dizendo que o AXN vai também transmitir a versão original, em alemão. Parece-me uma melhor ideia. Porque uma coisa é certa: quem teve a esperteza de dobrar uma série em Portugal, não é de certeza absoluta nenhum Einstein.

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