Menos um tópico "desencalhador"
Quando alguém nos perguntava, meio desesperado "não sei o que lhe dizer!", respondíamos sempre, a despachar: "falha-lhe do tempo". Dizíamos isto como se falar do tempo fosse sempre o assunto chave desbloqueador de conversas, como se falar do tempo fosse perfeitamente inútil e toda a gente soubesse que não servia para mais nada para além de desencravar conversas encalhadas. Ninguém achava que falar do tempo era interessante, mas ao menos era alguma coisa a dizer, o que, em muitas mentes, é melhor do que estar calado.
A questão é que "falar do tempo" já não se enquadra na categoria de "tópicos de conversa desencalhadores". Porque agora toda a gente fala do tempo de um forma genuína, chateada, preocupada, tornando os fenómenos meteorológicos um assunto real e não apenas cliché! Ouvir falar do tempo nas ruas, no telejornal, nos blogs e nos jornais é algo mais que vulgar e já não serve só para encher chouriços. Ouvem-se tantas preces como pragas a S. Pedro, pede-se sol, perdoa-se o verão, chora-se por um bocadinho de calor que teima em não vir.
E até eu dei por mim a falar do tempo de forma contínua. Que me deprime a chuva, que me chateia esta instabilidade, que quero praia, que quero piscina, que quero moreno, que estou farta disto, que me vou passar com S. Pedro. Tudo de uma forma sentida, dorida, de quem quer mesmo muito que isto do tempo mude.
Este post também é a sério, muito sentido, um grito do Ipiranga para que o raio do santo nos ouça e nos traga sol para dar e vender. Enfim, já nem o tempo faz parte dos "tópicos de conversa desencalhadores". Embora, no caso deste blog, por acaso até tenha ajudado a desencravar a preguiça e a súbita de desinspiração. Se calhar o tempo ainda serve para alguma coisa.