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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

01
Nov15

Miúda de 95 39#

O dois cavalos

 

Uma das melhores memórias que tenho de infância é de andar no dois cavalos da minha tia. Era uma alegria quando ela nos ia buscar à escola ou quando eu ia para casa dela mas pelo meio tínhamos de fazer alguns recados e passear pela cidade com aquela relíquia. 

Acho que continua a ser, até hoje, o único carro descapotável em que andei - e, num certo aspeto, será para sempre o melhor. Quer dizer, basta olhar para o carro para imaginar o quão fixe era andar ali, em dias de sol e com os cabelos ao vento! Ainda para mais, nos dias em que nos juntávamos aos três e quatro primos de cada vez dentro daquele carro minúsculo (o que não era propriamente legal), a risota era geral - neste momento, considero a minha tia uma heroína por nunca ter batido no meio de toda a galhofa que nós fazíamos. Gritávamos para as pessoas na rua, dizíamos-lhes olá e depois escondiam-nos para que ninguém nos visse e as pessoas ficassem com ar de perdidas a olhar para o ar. Ríamo-nos como uns perdidos, choravamos de tanto rir... e depois repetíamos outra vez.

O carro era vermelho como o da foto abaixo - parecia uma joaninha, só lhe faltavam as pintinhas pretas. Já não se fazem coisas como destas nos dias de hoje =)

 

carro_citroen_2cv_pagina.jpg

 

P.S.: O carro ainda existe e ainda anda! Só nós é que já não devemos caber todos lá dentro e, certamente, já não dizemos olá a pessoas desconhecidas na rua só para a ver, confusas, a olhar para o ar...

18
Out15

Miúda de 95 38#

Tesouro, o gelado

 

Quando era miúda - e tal como todas as crianças - pedia coisas só pelos brindes. Eram os happy meal que eu nem sequer gostava mas que tinham o bonequinho grátis, era o epá que nem sequer fazia questão de comer mas que tinha as chicletes no final, era o pingu que tinha uma forma gira e que eu gostava de levar para casa, eram umas drageias com um sabor horrível mas que tinham uma caixa gira... e era o tesouro. 

O tesouro era capaz de ser o que eu mais gostava, principalmente pela ansiedade de não saber o que estava lá dentro e ter de comer tudo para conseguir abrir o alçapão e ver o que estava lá dentro. Mas acreditem, era todo um drama para comer aquilo: ainda era uma caixa grande de gelado, metade de morango e outra metade de baunilha (ambos horríveis), pelo que tinha normalmente de recorrer à ajuda da minha salvadora (também conhecida como minha irmã), que me ajudava a comer aquilo até ao fim - não sem antes reclamar coisas como "só pedes isto por causa do brinde!", "tu não gostas disto, para quê que pedes?", "pedes estas porcarias e depois eu é que tenho de comer!!!". Ou seja, tudo perguntas e afirmações que ela já sabia a resposta - eu fazia olhinhos de bambi e pronto, ela lá comia. A cada colher o alçapão estava cada vez mais perto, o que era uma emoção - quando chegava a hora de abrir, para além da bodega que era por se ter de sujar as mãos com os restos de gelado que havia na caixa, era todo um suspense para saber o que saíria dali.

Normalmente eram umas tatuagens foleiras - o que, olhando para trás, percebo que não valia tanto sacrifício. Mas é a vida - e a prova de que as crianças também lutam (arduamente!) pelos seus objetivos! Nem que isso implique comer uma taça cheia de gelado, essa coisa terrível. 

 

04
Out15

As festas rurais de família

Costumo dizer que vivo no campo dentro da cidade - e adoro. Tenho horta, animais e árvores de fruto - somos quase auto-suficientes neste campo (e o que não temos compramos na feira, só muito raramente em supermercados). Admito que não sou eu que cuido da bicharada ou que ando a regar ou plantar os legumes, mas adoro esta ideia de comer o que é nosso, sem todos aqueles produtos terríveis, com a compensação de que tudo tem mais sabor. Esta ideia mais tradicional encanta-me enormemente e é algo que quero que perdure pela minha vida fora. 

Felizmente, na minha família, não somos os únicos a ter este misto de vida rural/urbana e, durante vários anos, isto fez com que fizéssemos algumas celebrações um pouco fora do normal e das tradições básicas, como o Natal, o São João ou a Páscoa. Aqui em casa costumava festejar-se o São Martinho, com algumas (poucas) castanhas aqui de casa, aproveitando-se muitas vezes o "verão de S. Martinho" para fazer a última festa do ano no exterior.

Nos meus tios fazia-se tipicamente a desfolhada, onde passávamos uma tarde ou uma manhã a recolher o milho que normalmente se dá aos animais durante o resto do ano - acho que esta foi a primeira "celebração" do género e que fez com que o bichinho pegasse. Chegamos a fazer a apanha do milho em dias de calor abrasador, com direito a banhos de mangueira e tudo - e é claro que depois do trabalho vinha a comidinha e o convívio mais convencional. O ato de apanhar milho é muito giro e é claro que os gritinhos sempre que alguém tocava num "morcão" (nome que damos ao bicho do milho) ou caía eram sempre razão para risota - isso e a comichão terrível que a farinha do milho faz, tanto na pele como no nariz e pela garganta abaixo.

Outra coisa que chegamos a fazer um par de vezes foi a matança do porco - isto já requeria mais trabalho e experiência, pelo que era um fim-de-semana inteiro nisto. O primeiro dia era para matar (calma, não havia aqueles urros horríveis, já nessa altura se punha o porco inconsciente antes de se abater), queimar, esventrar e essas coisas horrendas e só no segundo é que ia lá o talhante, bem pela fresca, cortar e dividir a carne para todos os que quisessem. E, claro, depois comer - o almoço era carne bem fresquinha, com direito a papas de sarrabulho a acompanhar. Também era giro, mas acabamos por não fazer mais - primeiro porque a carne tinha um paladar muito forte (os porcos caseiros têm um sabor muito diferente daqueles que compramos nos supermercados), depois porque o ritual de tudo aquilo é, para além de macabro, bastante demorado e, por fim, porque quem cuidava dos porcos acabava por se afeiçoar e era todo um problema quando chegava o derradeiro dia. 

Hoje em dia, por falta de tempo, vontade ou dificuldade de reunião, este tipo de junções são cada vez menos vulgares - e eu tenho imensa pena, porque era dos eventos familiares que me davam mais gozo. Não era só comida e bebida mas também o trabalho conjunto com vista a um fim. Mas aquilo que eu gostava mesmo, mesmo mesmo para completar a panóplia de tarefas rurais era fazer uma vindima - nós temos algumas vinhas aqui em casa, mas são pouquinhas e para consumo próprio (nem sequer convém apanhar tudo de uma vez porque não damos vazão), por isso nunca seria uma vindima a sério. Resta esperar que alguém compre uma quintinha no Douro para pôr estas mãos a trabalhar...

 

10030110.JPG

 

[primeira desfolhada, há 11 anos - eu de chapéu verde] 

27
Set15

De volta à primária (ou quase)

Este fim-de-semana os meus colegas da primária decidiram juntar-se para tomar um café e estarmos juntos, depois de tantos anos sem nos vermos. Fomos poucos (acho que não chegamos a dez, quando na nossa turma éramos cerca de vinte e cinco), mas mesmo assim não perdeu a piada.

A verdade é que já mal me recordo de quem era da minha turma - lembro-me de praticamente de todos mas já está tudo confuso na minha cabeça: não sei quem foi da primária, do básico e quem continuou comigo no secundário - porque foram sempre ficando alguns, outros desapareceram de vez e outros ainda os reencontrei nos últimos anos de escola depois de vários anos de ausência. Dei por mim a ir ver fotos antigas para verificar se estávamos todos no evento do facebook, de tão perdida que estava.

É engraçado pensar que passamos quatro anos com aquelas pessoas (aliás, no meu caso foi mais, porque ficamos quase todos juntos até ao sexto ano) - que até considerávamos amigos na altura e com quem tínhamos alguma intimidade - e depois o corte foi tão grande que, agora, até parece estranho estarmos todos à conversa. Dei por mim a não saber bem o que perguntar para além daquela conversa de treta que temos sempre com quem não sabemos do que falar: "então e a faculdade?", "então e ainda andas com a outra?", "como vai a tua irmã?". E depois de tudo respondido, restam-nos as coisas que ainda temos em comum: o passado.

A certa altura parecíamos um bando de velhos a rirmo-nos de peripécias que aconteceram há dez anos atrás (e eu acabei de fazer uma pausa para fazer esta conta dolorosa - estou velha!): dos casamentos, em que um colega era o padre, onde havia alianças de papel de prata, véus feitos com pano que eu trazia da fábrica e onde o copo de água tinha iguarias e bebidas tão boas como terra misturada com água; de quando nos vestimos de legumes para o carnaval; de quando fomos fazer húngaros e pão a uma pastelaria ali próxima. Enfim! Tanta coisa! E é incrível como eu me lembro de muitos pormenores - talvez até mais do que no básico.

Resumo da história: foi giro, estranho (o mais estranho de tudo foi mesmo ouvir as vozes dos rapazes - completa e totalmente diferentes, parecia que estava a ouvir uma voz do além - estranhamento grossa - num corpo que me era conhecido) e onde houve promessas de um jantar no futuro, com a nossa professora incluída. A ver vamos.

13
Set15

Miúda de 95 37#

A Boneca Eva

 

Há uns dias fui ao Zoo da Maia matar saudades de tempos idos - já lá não ia há uns anos e achamos que era giro para um dia um bocadinho diferente. Acabou por ser, de facto, super diferente porque o carro avariou e foi todo um filme e sucessão de azares que deram cabo de mim quando finalmente cheguei a casa lá para as onze da noite. Foi precisamente antes de seguir para o Gerês com a minha família e por isso, no meio daquilo tudo, acabei por não escrever sobre esse episódio - e agora, duas semanas passadas, já não faz sequer sentido.

Aquilo que queria contar foi o tema de uma conversa que lá tive. Enquanto me sentava com a minha amiga a comer um gelado expliquei-lhe que antes, pelas redondezas do zoo, havia uma boneca gigante em que se podia entrar com o objetivo de se observar o corpo humano desde o interior; quase uma visita guiada, muito visual, de como as coisas funcionam cá por dentro. Na altura ainda tentei procurar, no telemóvel, algumas imagens para mostrar, mas como não me lembrava do nome da boneca a busca foi infrutífera.

Entretanto já tive tempo e encontrei! Chamava-se a Boneca Eva. Eu nunca lá fui, mas cresci a ouvir história macabras sobre aquilo, como era assustador e etc. Apesar de tudo, sempre quis ir lá - fazia-me lembrar um episódio da carrinha mágica, em que eles entravam para dentro do corpo de alguém para aprenderem como tudo funcionava. Ainda por cima a boneca estava grávida, por isso podia-se ver o feto a "desenvolver-se"! Acabei por nunca ter oportunidade de lá ir porque aquilo fechou e, segundo o que li, foi partido aos pedaços e vendido para ferro velho. É uma pena. Assustador ou não, devia ser uma experiência mesmo gira e diferente. Ficam as (poucas) imagens.

 

03
Set15

Regresso às aulas

Há um par de dias fui ao Staples comprar uns tinteiros com o meu pai e, mal entrei, fui envolvida por aquele cheirinho de papel e material escolar que sempre me acompanhou nos dias antes de ir para a escola.

Lembro-me bem da ansiedade de ir comprar as coisas - não a mochila, que não mudei assim tantas vezes como isso, mas dos cadernos pretos - que decorava em casa, todos os anos, com pinturas e colagens-, dos lápis, das canetas e das borrachas. Era um ritual que adorava. E sempre, sempre acompanhado por aquele cheiro característico do papel, misturado com o das mochilas e estojos a estrear.

Há um par de dias fui ao Staples e cheirou-me a regresso às aulas. E, para além do cheiro, inundaram-me as saudades.

29
Jul15

Eu já tive uma casa no Algarve

Eu já tive uma casa no Algarve. Era linda, pequenina; era a melhor casa do mundo. Apesar de não a visitar, como a deixei, há praticamente dez anos, podia desenha-la na perfeição, decoração incluída. Lembro-me da cozinha minúscula, onde não cabiam mais de três pessoas; lembro-me do jardim interior, um quadrado com um metro e meio de lado que não servia para nada mas que acrescentava uma mística à casa; lembro-me da ventoinha da sala, que de cada vez que se ligava dava a sensação de que ia voar; lembro-me do meu quarto, do quadro com as bolas de bilhar e dos dois guarda-fatos, um de cada lado, com uma espécie de toucador no meio; lembro-me da piscina, pequenina mas perfeita, para usar sempre que o calor não deixava respirar; lembro-me do quarto exterior, essa coisa que nunca vi em casa alguma e que fazia daquela a coisa mais gira deste universo - lembro-me dos dois beliches, da casa de banho horrenda e do cheiro a praia que lá morava; lembro-me do alpendre onde estendíamos a roupa, tapado por umas plantas de folhas fúxia que agora não me lembro do nome; lembro-me dos sofás, típicos de casa de praia, com um estampado de florzinhas cor-de-rosa; lembro-me da televisão da sala, que só dava os quatro canais e também do tabuleiro de xadrez que estava imediatamente por debaixo dela, onde, numa manhã, o meu pai me ensinou a jogar damas. 

Podia passar o dia nisto, a descrever-vos cada pormenor daquela casa. Já lá fui depois de a termos vendido, mas estava diferente - perdeu a simplicidade de uma casa de férias, deixou de ser a minha casa. Pintaram-na com mil e uma cores, em vez da simplicidade do branco; deram nomes aos quartos (o do fogo, o da água, o da terra) e anexaram o quarto exterior, dos beliches, à casa, fazendo com que se perdessem para a eternidade todas as noites de loucura que aquele quarto proporcionou. Ainda assim, e porque de cada vez que cheiro o Algarve as saudades apertam, gosto sempre de lá passar, ver que ainda é viva e que, ao menos, alguém é feliz nela. 

Ainda lhe guardo a chave principal, não deixei que a deitassem fora quando fechamos, pela última e derradeira vez, aquela porta de madeira branca. Mesmo quando falamos entre nós, quando temos a típica conversa do "se eu ganhasse o euro milhões", eu digo que não - não queria ter outra casa no Algarve. A casa que eu queria, já a tive, já existe e era aquela.

Eu já tive uma casa no Algarve e tenho muitas, muitas saudades. E hoje, se pudesse fugir, era para lá que ia. Hoje, mais do que as saudades, queria mesmo ter um sítio para onde escapar, um lugar seguro. Mais perto do sol, mais perto do mar quente, mais perto da praia que me faz feliz, mais perto do sossego de alma que só o Algarve me traz.

 

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17
Mai15

Miúda de 95 35#

O jogo de casa da avó

 

Quando era pequena passava um dia por semana em casa dos meus avós. Era a minha avó que ficava comigo e com quem eu brincava. Apesar de não ter grandes recordações disso, há coisas que me lembro com um carinho imenso - principalmente agora, que ela já cá não está. Olhando para trás, e apesar da diferença de idades brutal que havia entre nós, ela tinha imensa paciência para mim. Lia-me histórias, mostrava-me as flores e, acima de tudo, dava-me uma liberdade imensa de descobrir aquela casa cheia de esconderijos giros.

Suponho que deva ter sido numa dessas expedições que descobri o brinquedo mais simples de sempre - e, talvez por isso, o meu preferido. Consistia em conseguir meter todas as bolinhas dentro de uma "baleia", que estavam dentro de água - para isso tinha de se clicar num botão, que injetava ar e fazia com que as bolinhas de mexessem - e umas entrassem para a baleia e outras saíssem. No fundo, um jogo de paciência.

Sei que aquele jogo não foi originalmente comprado para mim, mas acabei por ser eu a traze-lo para casa para recordação. Enquanto fazia as mudanças de um quarto para o outro, dei de caras com ele e bateu a saudade. Já não funciona (estraguei-o com a curiosidade de perceber como funcionava, daí a fita-cola) mas ainda não o consegui deitar fora. As coisas mais simples são as melhores.

 

IMG_20150322_171319.jpg

10
Mai15

Miúda de 95 34#

A lição número 100

 

No segundo ciclo tive uma professora de português um bocadinho amalucada mas que, ainda hoje, recordo com saudade. Quando saía das aulas perguntavam-me sempre "então, o quê que aprendeste?" e eu não sabia responder. Na prática, parecia que não aprendia nada, mas no fundo sentia sempre que aprendia alguma coisa naquelas aulas meio abstractas.

Todos os dias ela nos dizia a mesma coisa. "Meninos, qual a última aula cujo sumário está escrito?", e assim iniciávamos. Mas havia uma aula que era especial - em português, matemática ou em qualquer outra em que abríssemos a "lição". Era, claro, a aula número 100! Lá para a aula 52 já estávamos a pensar na festa que íamos fazer na aula número 100 - se trazíamos bolos e fazíamos um lanche, se íamos jogar lá para fora (é claro que os rapazes votavam nesta, só queria jogar à bola) ou, caso a professora fosse mais careta, ficaríamos a fazer sopas de letras da dica da semana - o que sempre era melhor do que fazer contas ou exercícios.

No fim, lançávamos todos os foguetes antes da festa. Muitas vezes, sob desculpa de "temos muito trabalho para fazer" ou "o teste é já na próxima aula", a aula número 100 era igual a todas as outras. Aproveitavam-se, pelo menos, todos aqueles dias de pura expectativa e planos super-hiper-ri-fixes que nunca chegavam a acontecer!

12
Abr15

O boneco da tortura

Acho que ainda hoje, se perguntarem à minha irmã qual o objeto de tortura com que teve mais contacto, ela responde "o despertador da minha irmã" [ou seja, o meu]. A sério, isto é um trauma real e que ela jamais vai esquecer. Porque este não era um despertador normal, daqueles de "trim-trim" ou com música suave. Bem pelo contrário!

Mas devem saber, antes de mais, que eu dormi os meus primeiros nove anos da minha vida com a minha irmã - não por necessidade, mas por opção. Gostava de ter companhia, pronto. Gostava de ter a cama quentinha, gostava de lhe dizer que tinha acordado e que ia para a sala ter com a mãe (ela detestava que eu fizesse isto, muahahah), gostava de ouvir Shakira e Manu Chao ao lado dela. Na verdade, o quarto onde estou agora - o seu antigo quarto - foi onde passei vários anos da minha vida, por isso estou basicamente a voltar a casa. 

De todas as coisas terríveis que eu lhe fazia - sussurrar-lhe ao ouvido mal acordava, pedir-lhe para me ir buscar de água a meio da noite (e tinha de ser do frigorífico, não podia ser da torneira da casa de banho), implorar para que fosse calar os cães que ladravam na nossa janela e coisas que tais - sei que a pior de todas era o meu despertador. Era um bonequinho de peluche azul com as orelhas e o nariz amarelo, com um ar aparentemente inofensivo. Programava-se a hora e escolhia-se o toque com que se queria acordar - e eu escolhia só um: o pior. Só tinha uma palavra: "acorda". Começava baixinho, estilo sussurro e de forma querida e ia aumentando de tom até ser um "ACORDDDAAAAAA!" a altos berros, de tal forma que o boneco tremia todo e o resto da casa era capaz de acordar.

Já não o via nem me lembrava dele há muitos anos, mas na mudança de quarto demos de caras um com o outro. Deitei muita coisa fora durante este processo, limpei metade do armário das tralhas que tinha - mas deste despertador ainda não me consegui livrar. É, talvez, o único boneco que ainda tenho no guarda-fatos desde o tempo de infância. E a verdade é que gosto mais dele por me recordar das gargalhadas que dava ao ver a minha irmã a acordar desesperada e espalhafatosamente com ele do que pelo boneco em si e dos berros estridentes que largava cá para fora.

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