Uma infância a jogar Sims (e muitas saudades...)
Não sei se alguma vez falei aqui da minha paixão assolapada por Sims quando era criança - o que é estranho porque, de facto, este jogo foi uma parte quase que essencial da minha infância. Só para perceberem, aquilo era importante o suficiente para eu gastar a minha mesada e todas as minhas poupanças: logo eu, que sempre fui forreta, não gastava nem eu cêntimo em qualquer outra coisa. Mas se saía uma extensão eu estava na fnac a compra-la e a desembolsar o que quer que fosse, perante o olhar surpreendido dos meus pais.
Os Sims são a única razão pela qual eu me contenho a criticar as horas que os meus sobrinhos passam com os eletrónicos - porque eu passava o dia inteiro a jogar aquilo, excluindo refeições e idas à casa de banho. Era uma loucura que nem eu sei como é que os meus pais toleravam - mas foi uma época (anos!) mesmo feliz e, diria até, bastante partilhada. As coisas não eram como são agora: não havia possibilidade de entrarmos nos jogos uns dos outros, mas eu lembro-me de jogar com os meus primos ou de ligar à minha prima a dizer que a minha família tinha tido um bebé, que o pai tinha morrido num fogo (sim, estas coisas aconteciam - e nós fazíamos de propósito) ou que tinha descoberto uma funcionalidade qualquer nova.
Ainda hoje são os jogos que eu guardo - tenho-os todos comigo, mesmo estando em crer que já não funcionariam com os sistemas operativos atuais. Passei muitas horas da minha vida a jogar o Sims 1 e, quando veio o Sims 2, a diferença foi brutal. Aliás, foi representativa da época: as coisas nos videojogos evoluíram tanto num espaço de tempo tão curto que o jogo quase nem parecia o mesmo. Eu criava tantas coisas, tinha tantas expansões, que dei cabo do meu computador e tive de o equipar com aquilo que, à altura, era uma super placa gráfica: por isso, agora que penso, também eu fui uma gamer nos meus tempos áureos (ah ah ah).
Eu era obstinada com aquilo. Chegava ao ponto de ter documentos com todas as famílias que tinha, com a informação sobre os agregados familiares, o que cada um fazia, a planta da casa, entre outras coisas - por isso, como veem, a minha "panca organizacional" não é de agora. Isto afetou-me de tal forma que eu considerei seriamente ir para decoração de interiores: porque mais do que fazer aqueles bonecos viver, eu adorava decorar as casas, os espaços, os negócios... era a minha perdição. E sim, eu era batoteira: como adorava comprar tudo do bom e do melhor, "criava" dinheiro e assim podia decorar as casas conforme queria. Mas tudo dependia da filosofia de cada família: algumas, "as honestas", lutavam para conseguir aquilo que tinham - mas eu perdia a paciência, porque elas ganhavam um salário muito baixo, eu nunca mais tinha dinheiro para comprar as coisas essenciais e desistia com facilidade. Mas, fora isso, posso dizer com bastante orgulho que passaram por mim muitas e muitas gerações de Sims.
Não sei precisar quando deixei de jogar, mas foi algo muito gradual e acho que por culpa de duas coisas: a primeira foi a falta de tempo - com o passar dos anos vêm as responsabilidades, os trabalhos de casa e outros interesses, por isso acabei por ir jogando menos e menos; a segunda foi o facto de ter comprado o Sims 3 e ter ficado cansada. E porquê? Porque eu sou uma miúda do Sims 1, dos bonecos irrealistas, das coisas simples, das casas só com meia dúzia de cores, das mobílias feias, das músicas só com piano. E a passagem para o 2 foi de facto brutal e necessária, foi todo um mundo diferente, mas o 3 já tem tanta, tanta, tanta coisa que eu já não sabia para onde me virar. A verdade é que aquilo cada vez mais se assemelha à vida real, e a complexidade do jogo aumentou de forma brutal e, a meu ver, desproporcional. Quando eu comecei a jogar, as personagens só tinham fome, sono, higiene, conforto, um objetivo de vida e pouco mais; no 3 eles já tinham traços de personalidade vincados, já ficavam rabugentos e a bater nas coisas caso eu não fizesse aquilo que eles queriam ou até tinham vontade própria. Ao clicar no frigorífico, em vez de ter "fazer jantar", tenho dez opções diferentes (incluindo vinte outras com refeições, que tenho de escolher, mas antes preciso de comprar os ingredientes). E ao clicar na cama, em vez de "dormir", eles podem fazer outras dez coisas diferentes - e, se bem me lembro, já nenhuma diz "triqui-triqui", como originalmente, onde a dita ação só podia ser feita numa cama cor-de-rosa, com uma cabeceira em forma de coração e com níveis de pirosice mesmo muito duvidosos.
Curiosamente, jogar Sims é das coisas que recordo com muita, muita saudade. E sinto aquela coisa típica de velha ao pensar "aquele primeiro jogo é que era bom". Eu tenho consciência que os gráficos eram trágicos, mas tenho na memória tantas coisas guardadas que é difícil ultrapassar. Lembro-me bem de passar a ter animais de estimação, de haver discotecas e restaurantes no bairro... e de no 2 poder abrir o meu próprio negócio (eu matava os meus sims com esgotamentos graças a eles... ups), de ir para a faculdade (alugava um quarto numa residencial, atafulhava-o de coisas e fazia a minha criatura passar o tempo quase todo lá para ter A's a tudo... eu sei, era terrível), de passar a ser possível ter apartamentos ou de, finalmente!, passar a haver estações do ano - com chuva, sol, folhas no chão ou trovoada.
Normalmente há qualquer coisa que me despoleta lembranças ou saudades e, depois desses momentos, venho aqui escrever para aliviar a alma. Mas hoje não. Do nada, abri o YouTube e decidi ouvir as músicas do Sims 1 - aquelas que ouvíamos enquanto construíamos a casa ou andávamos na cidade. QUase odas elas ao piano e todas com um sabor tão característico a infância... Passaram-se não sei quantos anos, mas aqueles sons continuam a viver dentro de mim e eu reconheceria-os até noutro planeta. Esta é a prova de que a vida passa, mas há coisas que ficam: porque, passado todo este tempo, eu sinto que poderia falar ou escrever sobre isto durante mais duas horas sem nunca me cansar, enquanto debitava detalhes e memórias que teimam em não desaparecer.
(E depois deste post, tudo o que me apetece é instalar o jogo e fazer uma direta a criar casas e vidas, ignorando o facto de ser adulta e de amanhã ter um dia de trabalho pela frente. Não posso ser pequenina outra vez? Por favooooor?).