O meu avô nasceu há precisamente 90 anos e ninguém se lembra
Eu lembro-me, porque será das histórias que não vou esquecer. A verdade é que nem ele próprio se lembra. Já são demasiados anos a festejar o aniversário oito dias depois de ter nascido. Quando lhe perguntam, quando realmente nasceu, a resposta já não está na ponta da língua, já plissa: "hummmm, acho que foi a vinte e oito de Novembro". Acha! Provavelmente foi a idade que lhe limpou a memória ou então o facto de, durante todos estes anos, ter dito a sua data de nascimento oficial, diferente daquela em que a sua mãe o deu à luz.
Para mim, ser registado numa data em que não nascemos é digno de escândalo, de uma cara de estupefacção imensa (que foi a que fiz, quando soube disto há uns anos atrás). Mas naquela altura era mais do que normal - havia pessoas registadas meses depois de nascerem ou, como o meu avô bem me conta, até anos (ele diz-me muitas vezes que conhecia um rapaz que, diziam, tinha 21 anos quando foi para a tropa - no entanto, na realidade, tinha 25)! Era normal. Ou porque não havia disponibilidade para se registar o nascimento, ou porque se pagavam multas se a criança não fosse registada até x dias de vida - e assim, sem qualquer tipo de problema, vai de alterar a data de nascimento do bebé!
Por isso, só daqui a oito dias é que ele estará a soprar as noventa velas a que tem direito. A bem dizer, deviam ser noventa velas e um bocadinho, tendo em conta que já tem mais uma semana de vida do que aquelas que está a festejar. Mas, com noventa anos, já nem se pensa nisso: é qualquer coisa como 32850 dias de vida, muito tempo. Mais ou menos uma semana não fará grande diferença. Ainda assim, parabéns Avô (eu gosto de celebrar os dias importantes nas datas devidas)!