Já lá vai! (ou como fugi da praxe)
Ai, como é mau acordar antes das sete da manhã! Principalmente quando percebemos que afinal não valeu assim tanto a pena. Mas enfim, lá fui eu para o a baixa às oito da manhã, ainda super alerta sobre aquilo que ia acontecer. Éramos uns 80 à porta do pólo, mas eu senti-me mais sozinha que nunca.
Entretanto entramos todos para o anfiteatro, ouvimos o que uma das raparigas teve para dizer e depois dois estudantes do curso - falaram sobre os horários, as turmas, os professores, as infra-estruturas. Os vinte minutos interessantes do meu dia, diga-se.
E depois mostraram-nos um vídeo. Começou tudo muito bem até que passou um harlem shake no ecrã e depois ficou tudo escuro. Pum! Abrem a porta, entram uns vinte doutores por lá dentro aos berros, vestidos todos de preto e até com capuzes (uhhh, os Volturi!) e com velinhas nas mãos, o que até dava uma versão "arromantizada" da coisa. Teve piada. Faziam todos ar de zangados, claro, aos berros, a dizer asneiradas em modo contínuo e com alguns insultos gratuitos. No meio do riso, do barulho (aquilo eram cadeiras a arrastar, colheres de pau a bater em tudo quanto era lado e berros de todos eles) e da escuridão, percebi tarde que eles queriam que nos puséssemos de quatro. Essa foi basicamente a minha praxe: estive de quatro num anfiteatro cheio de pessoas (é algo de que se podem orgulhar). E enquanto isso tentava perceber como sair dali. No meio dos berros, uma voz começou a sobressair - de um homem, que mais soava do tempo medieval - que começou com a lenga-lenga do costume: que aquilo era a praxe; era para quem podia, não para quem queria e tantas outras coisas. No meio, disse que quem quisesse sair, que saísse agora ou se mantivesse. Devo confessar que demorei a reagir e só me pus de pé quando vi algumas - poucas - pessoas a sair. Não estava, de todo, à espera que me tivesse de assumir como não-praxante ali no meio de uma sala com dezenas de pessoas de quatro e outras tantas vestidas de preto e a olhar para mim com cara de maus. Ainda ouvi um berro por me ter posto de pé, mas deixei claro que fazia tensões de sair. E assim fiz. Ainda fiquei à conversa com outras pessoas que também saíram e só depois vim embora, uma hora e pouco depois de ter chegado.
Sabia que nos outros cursos os caloiros se inscreviam ou não na praxe, muitas vezes aquando das matrículas. Estava à espera de uma intervenção nesta apresentação, mas não desta forma: foi literalmente arquitetado para que toda a gente fizesse aquela iniciação. É muito mais fácil estarmos a falar com alguém e não darmos o nosso número telefone, dizendo que não queremos fazer parte, do que nos levantarmos numa sala com uma centena de pessoas e assumirmos a nossa posição. Houve uma fração de segundos em que eu pensei: "Carolina, é bom que tenhas bolas para fazer isso". E estaria a mentir se dissesse que não vacilei. Tudo aquilo foi muito bem pensado.
Mas cá estou eu, "viva da silva" e contente por me ter mantido firme. Eu não queria mesmo estar ali. Mas finalmente que este tormento de vai-não-vai acabou e que pude deixar bem claro que não quero ser praxada - é uma liberdade que tenho. E agora é ver o que vem daqui para a frente!