A dualidade típica dos concertos
Sempre que vou a concertos fico numa terrível dualidade: vivo o momento ou gravo-o para todo o sempre?
Dizer que podemos fazer os dois é mentira. Podemos tentar - e a maior parte das vezes é o que fazemos -, mas nunca vivemos o momento a 100%. Há sempre aquela tensão: tentamos não nos mexer muito ou saltar, de modo a que a filmagem não fique tremida; tentamos olhar o máximo para o palco com os nossos olhinhos mas, quando damos conta, a câmara já está filmar o lado oposto do palco; queremos cantar com todos os nossos pulmões, mas sabemos que a nossa voz se irá sobrepor à do cantor que estamos, a tanto custo, tentar filmar.... enfim, não dá.
É por isso que desde há uns tempos para cá tenho deixado a câmara de lado. A vez em que mais senti isso foi quando fui ver o Robert a Lisboa e, quando senti que ele se aproximava de mim (mas não vinha em direcção a mim, apenas estava a passar), tive de tomar uma decisão: "ou gravo isto para todo o sempre nesta plaquinha super fina e nada pessoal, ou pouso tudo e guardo uma das melhores imagens de sempre na minha memória". Escolhi a última. E não me arrependi. Porque a verdade é que houve tantas outras pessoas que tomaram a decisão oposta à minha e esse momento de passagem ficou gravado em centenas de máquinas, pelo que a minha seria só mais uma. Mas aquele frame especial, aquele em que o senti mesmo, mesmo à minha frente, está num sítio bem mais acessível, rápido e pessoal: na minha cabeça.
Já no concerto do Jamie Cullum, que tanto ansiava, decidi fazer no mesmo. Apenas no momento de maior pressão - na música If I Rulled the World -, é que não consegui decidir. Ao invés, acabei por descobrir outra alternativa: atirei com a câmara para cima da minha irmã e pedi-lhe para gravar. Assim, vivi o momento e fiquei com ele gravado para todo o sempre no meu computador. Afinal sempre é possível ter as duas coisas - só precisam é de levar um ajudante super-hiper-mega-simpático convosco. Fica a dica.