Mar
Estes dias têm sido tão bons, tão doces, que eu mal consigo descrever. Têm sido férias, férias mesmo, distantes de tudo um pouco e só ao lado daqueles que estão sempre cá. É acordar, vestir roupa de banho e seguir para a praia, com a maior leveza e descontracção possível.
O mar deve ser das poucas coisas que, só por isso, me acalma e enche de felicidade. Não sei explicar porquê, mas só aquele cheirinho e o barulho característico fazem com que algo aconteça aqui dentro. Sou medricas em relação a tudo e mais alguma coisa, mas o mar é como se fosse a minha terra. Tenho-lhe respeito, sempre, mas sinto-me um peixe dentro de água. Não se contam pelos dedos das mãos as vezes que já enrolei, comi areia e bebi água horrivelmente salgada, mas mar é mar. Houve uma vez, uma só vez, em que me assustei a sério, ainda era eu pequena - num dia de inverno, só em passeio, fomos molhar os pés e, quando damos a volta para voltar ao carro, uma onda engole-nos e nós vamos com ele. Saímos todos ilesos, molhados apenas e com uma história para contar. Mas nem isso fez com que perdesse o meu amor pela água, pelas rochas, pelas algas ou por aquele sal indesejado. É como se ele fosse parte de mim. Um remédio vitalício, quase infinito, pelo qual não tenho de pagar. Tem sido tão bom.
Agora só quero chegar a sul e mergulhar por ele dentro durante horas a fio. Apanhar carrinhos, ver peixinhos, alugar um barco e ir para bem longe - sentir aquele friozinho na espinha que me faz sentir tão viva e feliz. O mar, sozinho, quase que faz o meu verão.