Keep distance
Este ano fiz um amigo alemão que um dia me disse que uma das maiores diferenças que sentia em relação ao seu país de origem é que lá as pessoas se tocavam muito menos. Ou seja, nós aqui tocamo-nos imenso, estamos sempre uns em cima dos outros, com as mãos em cima da perna de alguém, com o joelho a tocar no da outra pessoa, com a mão à volta da anca do outro ou com o braço em cima dos ombros de um amigo. Ou a abraçar, ou a dar beijos, ou a aproximarmo-nos demasiado.
Enfim, só eu sei como o entendi. Se há coisa que me faz aflição é as pessoas tocarem-me - e isto soa estranho, mas é verdade. Para mim não é natural pegarem-me na mão, agarrarem-me para me cumprimentarem, porem-me o braço à volta dos ombros, deitarem-se mesmo ao meu lado. Nem agarrarem-se a mim para me abraçarem por mais do que o tempo que tenho estipulado como "normal" na minha cabeça ou darem-me beijos sem razão aparente. Deixa-me incomodada e altamente desconfortável, sei lá. Mas sei que as pessoas não fazem por mal.
Sempre que me tocam e eu não vejo quem é, apesar de olhar primeiro, a minha mão já está a meio caminho de uma galheta (só naquela de ser um atrevido qualquer, que é o que penso sempre, apesar de 99,9% das vezes estar errada). É inevitável. Ou então quando se põem a brincar comigo e me tocam, e mexem no cabelo, e se põem a dar pancadinhas nos ombros tentando culpar outra pessoa que, coitada, está atrás de mim - por muito que tente, mesmo que perceba que é a brincar, a minha reacção automática é virar-me para trás com cara de poucos amigos para ver quem é que ousou infringir o meu espaço.
Mas se eu tenho um espaço pessoal de quilómetros, há pessoas que nem o têm - entre amigos, têm frequentemente uma "aproximação corporal" como se fossem namorados, e roçam-se e aproximam-se sem fins sexuais, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Para eles é. Mas para mim, que devo parecer a pessoa mais pudica, estranha e anacrónica do mundo, não é. Já deviam saber que estão no blog de uma pessoa estranha...