A pergunta do costume
Eu falo muito, se calhar escrevo ainda mais, mas a ideia de que tenho a resposta sempre pronta e sei de tudo é totalmente errada. Eu passo boa parte do meu tempo a formular respostas para questões que me coloco todos os dias - eu revejo conversas que tive umas trinta mil vezes, irrito-me por me ter comprometido aqui e acolá, por ter sido ligeiramente incoerente numa certa afirmação. Discuto comigo mesma todos os dias, interiormente, e talvez seja por isso que muitas das minhas respostas parecem ser pensadas - e é também isso que me dá um certo conforto em certas conversas que tenho, nas quais, se fosse doutra forma, não saberia o que dizer.
A viagem para Mafra foi interessante nesse ponto de vista - até porque não podia fugir para fora do autocarro para me desviar da conversa, o que me obrigou a responder de alguma forma àquilo que me perguntavam. O assunto era dos poucos em que a minha resposta nunca está preparada e eu plisso sem fim: a minha vida amorosa. Podem-me pôr a falar de política, de religião, dos processadores dos computadores (assunto sobre a qual eu não sei nada, mas nem me importo de inventar) ou até do sexo dos anjos. Mas da minha vida, não, por favor! E a explicação é bastante simples: primeiro porque não sou pessoa de grande partilhas. Confesso algumas coisas a meia dúzia de pessoas em que confio em grande escala e fica por aí. Por outro lado, por muito que me perguntem, eu nunca sei responder - acredito que achem improvável, mas as questões que vocês próprios se colocam sobre mim, também eu faço.
A pergunta mais flagrante e da qual eu já falei aqui é: "mas porquê que tu, não sendo uma aberração da natureza e até tendo alguma graça, sendo inteligente e outras coisas que tais, nunca tens namorado?". Questão interessante, de facto, mas à qual eu não tenho resposta. Passa-me pela cabeça a palavra "predisposição" e o facto de eu ser uma chata do pior. (Chega?)