As rotinas da fisioterapia
É todos os dias mais do mesmo. Sempre igual.
Chego àquela clínica e sento-me nos bancos azuis. Poucos minutos depois, ouço a Paula a chamar-me. Dou os bons-dias a quem os queira ouvir e vou para a minha cabine - a um, é sempre a um. Espero que ela me traga o equipamento para fazer o primeiro tratamento do dia. Quinze minutos daquilo, onde um "saco" enche e desenche ao longo de toda a minha perna. Ora ouço música, ora leio, ora escrevo, ora fecho os olhos e repouso. Ainda eu não acabei o primeiro tratamento, quando ouço uma voz masculina a dizer "bom dia". Tem uma voz bonita. Entra para a cabine dois, mesmo ao lado da minha. Apenas uma cortina branca nos separa. Como cena de filme, vejo através das sombras que tira sempre a sua camisola antes de se deitar e iniciar os seus exercícios. E depois, é silêncio. Toda a gente está enjaulada naqueles cubículos separados por cortinas e, para além da RFM, só se ouve "Dona Conceição, pode ir para a sete", ou então "hoje vamos começar por fazer à cervical, está bem?" ou ainda "pode ir deitando, que já aí vou".
Depois de pôr o meu pé em água quente e fria, alternadamente, saio dos cubículos em direcção ao ginásio. "Até amanhã, Paula". Saio da zona das cortinas sem nunca ver a cara do meu vizinho. Não conheço nem a cara, nem o nome, nem a idade - fico-me pela voz.
E entro no ginásio, com macas em toda a sua extensão. Sento-me no banco, à espera que a minha terapeuta me chame, enquanto observo as pessoas de sempre. A senhora a fazer exercícios para o seu pé, o senhor a comprimir uma bola durante dez segundos, e o rapaz a levantar uma perna e um braço de cada vez - este, que nunca me ligou puto, e é o mais novo que lá anda. "Carolina, podes deitar-te aqui". E mais quinze minutos de massagem. Observamo-nos uns aos outros, a pensar "e tu, o quê que tens?" ou então "olha, hoje temos pessoal novo".
Quando ela me diz que acabou, enfio a meia, calço as sandálias e despeço-me de todos. "Até amanhã". Poucos são os que me respondem - o raio do rapaz continua a ignorar-me -, mas fica sempre a promessa que no dia seguinte estarei lá de novo.